Em data recente, perguntaram a um rapazinho de cinco anos:
- Queres ser bombeiro?
E ele respondeu:
- Não, isso não dá dinheiro.
Este curto diálogo e mais perguntas formuladas são o mote da minha
reflexão. Quem falou com aquele rapazinho aproveitou para lhe ensinar o que
incumbe aos pais e aos professores. Tentou explicar-lhe que o ser Bombeiro é
uma honra e a maior dádiva dum cidadão ao seu semelhante. O petiz só muito mais
tarde perceberá, na realidade, o voluntariado dos soldados da Paz. Só muito
mais tarde compreenderá os propósitos do lema “Vida por Vida”. A tenra idade do
garoto ditou outras perguntas numa linguagem simples:
- Sabes quem apaga os incêndios nas casas e nas matas?
- Sabes quem ajuda nos acidentes da estrada e conduz os sinistrados ao
hospital?
- Sabes quem é chamado ao rio Douro para salvar as pessoas?
- Sabes quem leva os velhinhos e os doentes às transfusões de sangue?
A rapidez das questões embaciou o olhar da criança e tornou-a pálida.
Ao fim das quatro ela já tremia como varas verdes!
A conversa teve de parar para não lhe causar incómodo. O interlocutor (o
adulto que perguntava) ainda acrescentou:
- Um dia serás um jovem e depois um homem e hás-de perceber, o que
significa para um Bombeiro, o valor da solidariedade, do voluntariado, da
amizade, do amor aos outros e, por último, da oferta da própria vida!
O menino – que desconhecia, naturalmente, a profundidade destas últimas
palavras – foi-se recompondo da palidez e das tremuras e o olhar foi-lhe
restituído.
Este caso leva-me a crer que a sociedade actual se materializou
definitivamente. E que o homem, assediado pela televisão e pelas novas
tecnologias, vai ficando nu dos valores elementares.
A família tem o dever de educar a criança para os valores da entre-ajuda,
da solidariedade, da disponibilidade e do amor ao próximo, entre muitos mais. A
escola, como complemento da educação familiar, tem a tarefa de promover a
prática desses valores. É conhecida a máxima latina: primum vivere, deinde philosophari (primeiro viver, depois filosofar). Obviamente
que após acautelar o seu sustento, o homem deve procurar realizar o seu fim
último na terra que é ser feliz. Ora, no dar e no dar-se aos seus iguais há,
seguramente, muita felicidade.
- Peso da Régua, 23/8/2012, M. J. Martins de Freitas
Clique nas imagens para ampliar. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edição de 26 de Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.