Paulatinamente, no inverno da vida, vão tombando e desaparecendo das velhas ruas da Régua, árvores fortes, com raízes profundas, que foram abrigo frondoso em nossa infância e estruturadoras da personalidade de muitos de nós que exaltamos o Douro... Neste entardecer melancólico de todos os dias, abraçamos a saudade a cada árvore que desaparece... a cada folha que cai como lágrima, nas ruas frias de uma Régua diferente, a caminho do esquecimento...
- Jaime Luis Gabão - Fevereiro de 2014.
Um amigo da Régua
Na vida é sempre assim: chegamos e partimos, vivemos e sonhamos, vencemos e perdemos, esquecemos e lembramos. Por isso, o nosso tempo de vida é sempre fugaz e efémero, mesmo quando acreditamos que somos capazes de alcançar a Eternidade. Assim, não faz sentido dizermos que a morte de alguém é o fim. O mais certo, é pensarmos que apenas faz sentido chorar a morte de alguém que amamos, se antes nos regozijarmos com a sua vida, com o que construíram, com o exemplo de vida e de valores que nos deram, com a obra que nos legaram. Quando morre um amigo assim, sentimos que perdemos uma parte de nós, mas quando esse amigo é um homem bom e justo e que dedicou a sua vida inteira à terra que foi o berço, às pessoas simples e humildes e às organizações sociais, de solidariedade e culturais, quem mais perde é a humanidade.
Na Régua, no dia 11 de Fevereiro, a humanidade perdeu o nosso amigo José Coutinho, um reguense dos "quatro costados". Tinha 85 anos e, como alguém escreveu, o Senhor Coutinho, como era carinhosamente tratado, será lembrado na história pela sua acção grandiosa como Presidente da Junta de Freguesia do Peso da Régua, lugar que pela vontade do povo desempenhou durante três décadas. Mas, o seu nome será também lembrado pelo seu exemplo cívico, pela solidariedade afectiva com as pessoas mais desfavorecidas e pela sua cidadania activa em prol do bem comum e do progresso da sua terra que muito amou, servindo-a com paixão em diversas instituições, tais como o Sport Clube da Régua, a Cruz Vermelha, o Clube Caça e Pesca, a Associação da Região do Douro para Apoio aos Deficientes e a sua Associação Humanitária de Bombeiros.
A vida do José Coutinho teve sentido. A Régua precisa de homens como ele. Só estes fazem grande a terra onde nasceram. Foi isso que fez o José Coutinho como político e, sobretudo, um exemplar cidadão. Morreu um amigo da Régua. Que da sua vida saibamos colher o que tanto semeou e, acima de tudo saibamos aprender, a sua grande lição de civismo e dignidade.
Hoje, que lembro o nosso amigo José Coutinho, estou mais certo que morrer, como dizia o poeta Fernando Pessoa, é só não ser visto... E foram estas as palavras que gostei de ouvir ao padre Luís Marçal no dia em que o seu corpo foi a enterrar ou, melhor, ele já ia a caminho da Eternidade.
- Régua, 15 de Fevereiro de 2014, José Alfredo Almeida (In "Patria Pequena")