Coríntia é uma menina que vende tecidos muito coloridos no bazar, cada vez que os sacode deixa cair no chão, histórias com muitas cores.
A manhã é de Sol quente.
Aproximou-se da menina um homem alto - porque todos os homens são altos para a menina que ainda é pequena - aproximou-se e pisou num bocado de tecido encarnado. A menina puxou o tecido e pediu que o homem tirasse os pés de cima das Cerejas, mas ele só ali via um tecido encarnado.
- Quero comprar este tecido - apontando para o tecido encarnado -.
- O das Cerejas? Pergunta a menina.
- Sim o vermelho.
- Não é vermelho, é mais forte, vermelho três vezes forma-se em encarnado e se ficarmos a conversar um pouco mais de certeza ficará pálido vermelho porque o sol alimenta-se das cores dos meus tecidos.
- É por isso que os abanas?
- É por isso e porque assim ao longe quem passa os vê.
- Quero então um metro de Cerejas.
- Porque não leva também um metro de Mangas?
- Não, para as mangas já me chega este metro.
- Não digo de vermelho, digo um pouco deste que é quase vermelho mas ainda é laranja de Manga.
- Menina! Vamos lá a perceber, afinal o que é que eu levo?
- Não sei, leva o que quiser, mas se quiser a minha opinião, fazia as mangas a Mangas e o corpo a Cerejas.
- Então dê-me lá um quilo de cada.
E assim a menina vende os seus tecidos e convence todos os compradores a sonhar.
- Inez Andrade Paes*
PUBLICADA POR IAP EM 12:33 - "Contos de fadas não de reis"
* - Foi na terra do mar que Inez pôs em primeiro lugar as suas mãos. Daí sairam conchas, algas, pequenos grãos de areia que se introduziam entre os dedos e embora fizessem uma ligeira impressão traziam consigo o nácar dos peixes e o azul do Mar. Foi com estes olhos que Inez se arrelampou com o primeiro pôr do sol, com o primeiro arco iris, com a primeira onda agreste que lhe deitou o mar por cima e lhe deixou sal nos lábios. Foi com estes olhos que Inez viu a terra vermelha, aquela onde até se podiam plantar pedras. Mas foi com estes olhos que Inez recompôs a saudade e mergulhando as mãos na terra adversa, daí tirou tudo, fez compotas, adoçou a família e os amigos, e como se não bastasse, meteu a imaginação pelo meio para criar coisas que aos nossos olhos se tornaram surpreendentes. Foi com estes olhos que Inez abraçou o pasto com a mesma ternura que abraça os poetas, o mesmo amor que abraça a alma. E foi com estes olhos que Inez viu a liberdade dos pássaros e os reproduziu fielmente, para que eles os pássaros pudessem ir para além do vôo, naquilo que os pássaros ensinam as pessoas em trajectórias para além do circulo. E as mãos de Inez estão aqui. No tudo que nos leva ao caminho duma descoberta plena. Por favor Inez não deixes que as tuas mãos saiam do nosso coração.
- Teresa Roza D’Oliveira - Julho de 2004
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para os blogues "Escritos do DOURO" e "ForEver PEMBA" em Dezembro de 2012. Transcrição com a devida vénia dos blogues da artista plástica, poetisa e escritora natural de Pemba em Moçambique, residente em Portugal, Inez Andrade Paes "Contos de fadas não de reis" e "Coralino" Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.