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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em tempo do III Fórum João de Araújo Correia que se realiza a 20 de Outubro no Museu do Douro:

Do texto de João de Araújo Correia (JAC), "Uma Eternidade", que é uma separata do livro de Elísio de Moura - "Vida e Obra - Testemunhos":

"Pouco posso dizer do professor Elísio de Moura, porque não fui seu discípulo. À parte a instrução primária e dois anos passados, aqui na Régua, a estudar francês e inglês, com o mestre particular Francisco Pinto Pereira, o "Chico das Agostinhas", a minha vida estudantil é portuense." - João de Araújo Correia
Clique nas imagens para ampliar. Imagens e texto sugeridos por Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Em conversa com Nogueira Borges - JOÃO DE ARAÚJO CORREIA O MÉDICO, O ESCRITOR E O HOMEM

Em tempo do III Fórum João de Araújo Correia que se realiza a 20 de Outubro no Museu do Douro:

Por: M. Nogueira Borges*

João de Araújo Correia é o exemplo acabado do HOMEM DURIENSE na universalidade da sua encarnação telúrica, tão rijo e tão digno como os antepassados e os hodiernos que escreveram e escrevem com sangue, suor e lágrimas a saga heróica duma Raça por estes montes e vales onde florescem os vinhedos da nossa esperança. Nada lhe foi fácil, nada lhe veio ter às mãos sem trabalho e muito sacrifício. Fez-se Médico, Escritor e Homem à custa de muita luta, honra e dimensão moral.

Foi Médico depois de sofrer uma dolorosa interrupção a que a doença o obrigou. Calcorriou caminhos desconhecidos para atender aflitos do espírito e do corpo, criou nome e admiração dentro e fora das fronteiras do País Vinhateiro, viu em muitos lares “a face da fome e da doença desvalidas de pão e de farmácia” (1). Soube, como ninguém, que “a morte, em meios imbecis, é o que foi a vida: um quadro baço, quieto, sem frémito de asa, sem gota de água, sem nada” (2). Não andou de guarda-sol em cima de ginete cansado, em descrição dionisiana, antes um clínico que tinha de saber de tudo para acudir a qualquer dor em qualquer lugar, numa observação pronta que tanto usava a fala pausada e conselheira como o silêncio sem azedume e tolerante. Um doente era-lhe sempre um ser humano cuja sensibilidade se respeita, e aí, sim, foi para todos um João Semana de coração aberto que aliou a frieza da ciência ao afago da alma e à ternura do trato. Consultar João de Araújo Correia não era ir buscar receita com montes de medicamentos mas ouvi-lo, contemplar a serenidade daquele rosto, a benevolência daqueles olhos no ali, naquele corpo, havia uma alma grande, mais do que um profissional, uma personalidade culta que sabia do que falava e o que fazia e não esquecia o resto.
Como Escritor atingiu a plenitude no género cultivado. Um conto seu é uma aprendizagem da anatomia espiritual nos mais insondáveis pormenores da conflitualidade ou da paciência humanas. Um estudo sem fastio da nossa gramática, do modo correcto e puro de escrever português sem cedências à vulgaridade. A sua escrita é da textura do solo onde nasceu: fértil e trabalhosa, numa busca persistente da perfeição, preocupada com as ressonâncias da sintaxe, num belo exemplo de descrever as situações entusiasmando e educando os seus leitores. É que ler João de Araújo Correia não é, apenas, o acompanhamento da narração, mas também o ficar a saber como se escreve.

O nosso Escritor é um clássico onde se congregam anamneses românticas e sublimidades realistas numa constante preocupação ontológica.

Como cronista e conferencista cativou leitores de Diários prestigiados e plateias admiradas de salões alcatifados ou de soalho tosco. Todos aprenderam a experimentar a vida de quem dela falava com a sabedoria de a ter observado, tranquilo e perspicaz, na solidão do seu miradouro ou no convívio de algumas tertúlias esparsas e muito nos catres da miséria ou nos berços doirados onde a doença indistantemente o reclamava. As suas conferências são lições de literatura e de mundo. Usa as citações dos seus confrades sem presunções culturais e fala-nos deles com a naturalidade de quem conhece as suas vidas. A sua elevação linguística é tão bela e quente, simultaneamente calma e firme, que surpreende como é possível, numa frase, transmitir-se a ironia dum olhar ou a temática dum cronista supremo que pegando no mais singelo pretexto consegue a totalidade do desenvolvimento, carreando minúcias e aduzindo razões que ao comum dos mortais não lembravam.

João de Araújo Correia foi um HOMEM que não escapou ao desígnio histórico. Lidou com a morte desde que se conheceu, a ponto de “conversar com ela de mão em mão” (3) por reflexo no seu próprio sofrimento e no alheio. Não foi rico de bens materiais antes um rico homem que se guindou pelo seu pulso e adquiriu uma enorme fortuna que todos devíamos procurar: uma postura ética e moral acima das conjunturas dos tempos e dos procedimentos sociais. Deixou uma inesgotável herança: um exemplo irrepreensível de honra e de dignidade que nem todos somos capazes até de plagiar.

Ajudou quem merecia e não merecia, mas sempre quem e quando precisava. Sabia que há um tempo para tudo: para o carinho e para o ralho, para a negativa e para o assentimento, para o estímulo e para a supressão. Não cultivou a demagogia nem a excentricidade, não bajulou poderosos nem fingiu perante os humildes. Soube ser solidário para com os sulcos do seu suor.

Nesta hora, de Festas em honra de Nossa Senhora do Socorro, aqui fica a minha contribuição para o seu livro-programa que a respectica Comissão generosamente me solicitou e a que, probo e agradecido, correspondo.
Tamanha prerrogativa tinha que ser paga com seriedade e sinceridade.

Como João de Araújo Correia dizia: “O ESPELHO DE UM HOMEM FOI (É) SEMPRE O SEU CORAÇÃO.”

(1)   (2) (3) – in palavras fora da boca. - *Manuel Coutinho Nogueira Borges, escritor e poeta do Douro-Portugal, nasceu no lugar de S. Gonçalo, freguesia de S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, em 12.10.1943 e faleceu em 27 de Junho de 2012 na cidade de Vila Nova de Gaia. Frequentou o curso de Direito de Coimbra, cumpriu o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial mil.º e enveredou pela profissão de bancário. Tem colaboração dispersa por diversos jornais, nomeadamente: Notícias (de Lourenço Marques); Diário de Moçambique (Beira), Voz do Zambeze (Quelimane), Diário de Lisboa, República, Gazeta de Coimbra, Noticias do Douro, Miradouro, Arrais e outros. Em 1971 estreou-se com um livro de contos a que chamou "Não Matem A Esperança". (In 'Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses', coordenado por Barroso da Fonte. 
Clique  nas imagens para ampliar. Imagem de M. Nogueira Borges de autoria de J. L. Gabão. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2012 em homenagem ao saudoso Amigo MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES e assinalando o III Fórum sobre o escritor e médico João de Araújo Correia. O texto de M. Nogueira Borges é cortesia do Dr. José Alfredo Almeida. Duas imagens fotográficas sobre monumento a João de Araújo Correia na cidade de Peso da Régua de autoria do Dr. José Alfredo Almeida. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.