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terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Pai da Fanfarra

Sr. Presidente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua escrevo-lhe estas linhas com o objetivo de colaborar na sua obra de pesquisa histórica sobre os nossos bombeiros, obra que vem sendo complementada pelo muito que já fez em prol do seu património cada vez mais rico, quer material quer socialmente.

Esta narrativa corresponde á vida de um amigo, bombeiro, de nome António Jacinto Dias, o fundador da nossa Fanfarra, também conhecido pelo “homem do campo do Sport Clube da Régua”.

Natural de Fontelas, António Dias viveu a sua juventude no Peso da Régua. Ingressou no comércio, na firma Viúva Luís Vicente e Rodrigues, onde eu também me iniciei em abril de 1941. Foi para mim um conselheiro e um exemplo, pelo seu comportamento, quer profissional quer pessoal. Ficámos amigos.

Pouco depois de casar com a querida “Mariazinha”, António Dias, já com fama profissional, foi convidado para ir trabalhar para uma das melhores lojas de Sá da Bandeira, no Porto, a Casa Omega, onde se destacou pela sua postura e saber.

Após doze anos, regressou à sua terra para fundar, com seu irmão José Dias, os Armazéns do Mercado, uma inovação, na época, para a Régua. Cidadão ativo construiu a sua casa e a sua vida ao serviço da comunidade e tornou-se depressa conhecido pelo “homem do campo”, em prol dos seus trabalhos de voluntariado no campo do Sport Clube.

É em 1977 que surge a oportunidade de eu lhe manifestar o meu apreço e admiração convidando-o para fazer parte da minha direção, nos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua. Mostrou-se desde logo interessado em criar uma fanfarra e, após a recolha de informações necessárias para o efeito (apoio dos Bombeiros de Coimbrões, em Vila nova de Gaia), conseguimos realizar o seu sonho. Ele próprio arranjou um donativo – as galochas das majorettes – através da Sapataria Porto. Nos primeiros ensaios, ainda veio um maestro de Vila Real, mas depressa António Dias tomou as rédeas do grupo e a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua galgou o distrito e começou a ser convidada para variadas festas, ganhando fama e prestígio.

Só a falta de saúde lhe veio toldar a felicidade que então sentia. Vítima de uma doença que acabaria por ser fatal, esteve cerca de dois anos em tratamento, acompanhado pelo seu médico – Doutor Adelino Adolfo do Hospital de S. João do Porto – que se deslocava periodicamente à Régua para lhe ministrar um remédio que na altura vinha da América. O pai da nossa Fanfarra morreu nos meus braços, no dia que havíamos planeado fazer um passeio a Chaves, por seu especial desejo.

O seu funeral confirmou a homenagem merecida de todos os seus amigos e conterrâneos. A presença dos nossos bombeiros e especialmente dos elementos da Fanfarra foi um momento inesquecível de emoções e homenagem verdadeiramente sentida.

Aqui quero deixar a minha gratidão ao amigo e também ao homem que serviu a sua terra com dignidade e amor.

Ele ficará sempre na memória dos nossos Bombeiros como o “Pai da Fanfarra”.

Porto, 30 de Outubro de 2012,
- António Bernardo Pereira - Antigo Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros do Peso da Régua.
Clique  nas imagens para ampliar. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.