De Manuel Maria de
Magalhães*
Tu que fazes, linda flôr,
N´esta selva tão sosinha?
D´aqui
ver-te tenho dor,
Existindo sem visinha!...
Porque não vaes tu viver
Em jardins encantadores?
Vae-te, não queiras morrer
Tão ausente das mais flores.
Se vem um bicho malvado
Em procura de sustento,
Tu o verás a ti voltado;
Serás morta n´um momento
Se vem um tufão furioso
Por tua fronte passar.
Cairás logo no chão,
Sem ninguém te apanhar!
Anda pois, comigo vem,
Prometto-te, linda flor
De a ti, e mais ninguém
Dedicar o meu amor.
Viverás no meu jardim
No lugar que escolheres;
Só a ti amarei, sim,
Até eu, ou tu morreres.
Então anda, vem ser minha
Não quero que fiques só;
D´aqui deixar-te sosinha
Tenho pena, tenho dó!
Regoa, Julho
de 1864
Nota: *Publicada no jornal “O Douro”. Esta faceta de Manuel Maria de Magalhães como poeta
romântico, até hoje era nossa desconhecida, revela muito do seu carácter
humanista deste principal fundador e o primeiro comandante dos bombeiros da Régua
(1880 a 1892).
Colaboração de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2011. Clique na imagem acima para ampliar.