Depois
de madura reflexão, ponderando as responsabilidades que hoje assumo no pleno
exercício da minha liberdade, queria expôr-vos com clareza as razões da minha
determinação.
Em
primeiro lugar, notamos que a nosso mundo vive obcecado em salvar o homem, e,
no entanto, as guerras, as enfermidades, a poluição, alcoolismo, as drogas, as dissensões
político-sociais provocam o medo da aniquilação total do ser humano e grassam
pelo universo de portas franqueadas.
A
razão de tudo isso, creio eu, é que o homem não reflecte suficientemente a
qualidade do seu ser. Assoberbamo-nos demasiado com o ter, com os votos e com
os números e esquecemo-nos de ponderar, numa estrutura de personalidade, os
dons que Deus nos deu. O orgulho e a vaidade humana continuam a espezinhar e a
destruir o homem, para salvar a humanidade …
Esta
trágica realidade levou-me à consciência da minha própria condição humana.
Ponderei os valores que meus pais, professores, amigos e esta sociedade reguense
me apresentaram e organizei-os numa hierarquia que me permite sentir-me homem
no meio dos homens, com brio da honestidade de ser aquilo que sou.
Depois,
verifico que todo o nosso ser está voltado para fora de nós, para o universo e
para os outros, numa expressão de serviço que dá a razão de qualidade de ser a
nós mesmos. Entre o belo e o feio, entre verdade e a mentira, entre o amor e
ódio, só é verdadeiramente livre e humano quem opta pelo belo, verdadeiro,
justo e favorável ao homem ou ao serviço do homem. Ora, no meio de nós uma
organização humanitária de voluntariado que tem como lema “ vida por vida”
representa orgulhosamente a esperança de todos nós para um mundo melhor, onde a
dignidade humana seja o primado de todo o viver.
Por
isso, aceitei pertencer ao Corpo de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua,
convicto da minha capacidade de ser mais humano para todos os que possam ser
nesta terra mais humanos também. Tenho a certeza de que se todos morremos um
pouco para os nossos interesses pessoais, os nossos orgulhos, as nossas
vaidades, seremos um sinal de salvação para todos: apagaremos labaredas de um
fogo real para acalentarmos tranquilidade e paz em todos os reguenses;
salvaremos bens e vidas humanas revelando a gratuidade do nosso amor, para
rasgarmos sorrisos nos nossos lares; promoveremos o bem sem olhar a quem, para
que desabroche uma eterna chama de amor no coração de todos os homens.
Aprendendo
a morrer para mim, estou certo de dar a vida aos outros com mais alegria, mais
esperança, mais harmonia e Paz, e estou seguro de realizar o único e válido
ideal de humanidade que a todos vós desejo, num abraço amigo que já conheceis,
mas que sem vós também não faz sentido.
Por
isso conto convosco, porque podeis contar comigo.
- Pedro da Conceição Ferreira Pinto, 2º Comandante os BV da Régua (de 18/01/79 a
9/02/1990).
Nota:
Discurso da cerimónia de posse, proferido no Salão Nobre do Quartel Delfim
Ferreira, no dia 3 de Fevereiro de 1979, perante o Presidente da Direcção Dr.
Aires de Querubim de Menezes e o Comandante Carlos Cardoso.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Também publicado no jornal regional semanário 'O ARRAIS', edição de 19 de Dezembro de 2012.Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.
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