No fundo os rápidos que de água se quebravam
subindo à sirga em de rabelos barcos.
Mas baixas as alturas se reflectem calmas
de rochas casas e arvoredo fundo.
Verde tão verde o rio se não corre
de lago é preso e um barco noutra margem
parado se contempla a esbelta proa arqueada
sobre o telhado inverso do solar antigo.
Se brisa matinal se encrespa de água e morre.
Verde tão verde era de espuma e rocas
polindo-se tranquilas no fiar das águas.
Vinham descendo os montes em socalcos que
lambidos se inseriam no passar dos barcos.
No fundo como nuvens se enverdecem rocas.
Verde tão verde era de rijas águas
de espumas e de pedras e de alteadas margens.
Tão verde ora de névoa surda
em que de gritos não barqueiros remam.
Que rio se era escuro e já de verdes águas.
Parado e sempiterno e velho de águas rio
não passas repassando as águas de outro tempo,
verde tão verde na manhã parada.
- Jorge de Sena, Antologia Poética, 2ª ed., Porto, Ed. Asa, 2001, pág. 187. Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
- Jorge de Sena - Wikipédia
Clique nas imagens para ampliar. Sugestão do poema de Jorge de Sena feita pelo saudoso Manuel Coutinho Nogueira Borges e Dr. José Alfredo Almeida (Jasa). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2012. Permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.
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