segunda-feira, 25 de abril de 2011

Lá andam as andorinhas…

Em noites primaveris, saio de casa, às vezes, a passear com minhas filhas. Dou uma volta pelo cais da Régua, construído com uma boa ajuda de vareiros. Contemplo os beirais de casas que vão envelhecendo. Como na minha infância, lá andam as andorinhas, reparando os lares com o lodo do rio. Subo a Rua das Vareiras, espreito a Rua Nova, entro na Rua da Ferreirinha. Uma fila de casas, com maior ou menor atrevimento, é ali precursora da nova arquitectura. Morre o crepúsculo. É a maneira de se verem, numa esmola de luz silenciosa, aquelas frontarias. Digo a minhas filhas: este casario, meninas, foi feito de sardinha e sal. Há sal na Régua…

- Da conferência de João de Araújo Correia Há Sal na Régua, in livro “Palavras fora da Boca”, edição da Imprensa do Douro (1972) - Peso da Régua, Matéria enviada por J. A. Almeida em Abril de 2011.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

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:: Barcos Rabello em 1905 e a atualidade fluvial do cais da Régua ::

PRETÉRITO IMPERFEITO

Íamos, meios tontos, inebriados pela fantasia de que era tudo nosso, correndo pelos caminhos de sombras da mata, arrancando, aqui e além, ramitos de mimosas, até nos quedarmos, ofegantes, no encosto de um tronco, o suor a escorrer pelos corpos.

Não sabíamos que o Mundo tinha hospitais e cadeias, lágrimas nos cantos da tragédia e ódios recalcados na desventura de vidas desconhecedoras do perdão.

Ignorávamos que o amor é, tantas vezes, uma hipocrisia sustentada pela comodidade de não romper interesses ou ferir o futuro dos nascidos sem culpa.

Julgávamos eternas as juras de fidelidade e que os dedos entrelaçados nunca se desatariam.

Não conhecíamos a ingenuidade porque, entre nós, tudo era seguro e limpo.

Troçávamos dos conselhos dos mais velhos como se fossem frustrações de quem não encontrara a felicidade. Esta nascia-nos nos brilhos dos olhos e na sofreguidão dos afagos. O dinheiro não contava porque matávamos a sede na água do riacho e a fome nos frutos que amadureciam sob o calor das férias.

Da cidade chegava-nos a confusão, amortecida pela muralha do arvoredo, e os passarinhos cantavam connosco. Era lindo ser-se novo! Sentir na cara a seda da brisa e nas veias o sangue do desejo, libertos dos ralhos e das sinetas, sem vultos negros nos corredores semi-iluminados, sem o cheiro lixiviado das camaratas e as imposições dos recolheres vespertinos.

Não voávamos que não tínhamos asas, mas os risos e os sussurros acompanhavam-nos na leveza de quem não fazia contas. O futuro não existia, ou antes, era o momento, tinha a dimensão de uma ternura e a certeza de que a luz da tarde nos daria o tempo suficiente para nos vingarmos da noite.

Sentávamo-nos num banco de pedra a contemplar a colina do castelo, enlevados em romances de cavalaria e princesas encantadas. Do lado de lá, depois de um abismo rochoso, ficavam os lameiros onde se abatiam as codornizes enquanto não chegava o tempo das perdizes e dos coelhos. Eram terrenos férteis, de vales amplos, acordados pelos tiros e pelos gritos das manhãs cinegéticas.

Não sentíamos as lágrimas da humilhação, a indiferença das almas egoístas, as cobiças insensíveis, a inveja deprimente.

Éramos vazios do mal, só a boa-fé nos comandava. Traçávamos as linhas da honra sem imaginarmos que, um dia, mais repentinamente do que começáramos, as estradas dos nossos passos nos levariam cada um para seu lado com o mar a separar continentes e a guerra a enlouquecer uma geração.

Mas valeu a pena acreditarmos, percorrermos a ilusão. Se conhecêssemos tudo o que a vida nos trouxe, desistiríamos, logo ali, de sermos felizes. A felicidade, por pouco tempo que seja, vale sempre, ao menos, uma memória.

- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória". O livro "O Lagar da Memória" foi apresentado  dia 12 de Março último na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia . Informações para compra aqui. Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "ForEver PEMBA". A imagem ilustratrativa acima foi recolhida da internet livre. Clique na imagem com o "rato/mouse" para ampliar.
  • *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua - Portugal.  

terça-feira, 19 de abril de 2011

Obras de Beneficiação no Quartel Delfim Ferreira

As obras... Colocação de um novo telhado no belo e histórico edifício dos Bombeiros da Régua, a concluir até Outubro próximo a tempo de receberem todos aqueles que vão estar presentes ou participar no importante 41º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses.
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:: Imagens cedidas por José Alfredo Almeida - Bombeiros Voluntários do Peso da Régua ::