Em noites primaveris, saio de casa, às vezes, a passear com minhas filhas. Dou uma volta pelo cais da Régua, construído com uma boa ajuda de vareiros. Contemplo os beirais de casas que vão envelhecendo. Como na minha infância, lá andam as andorinhas, reparando os lares com o lodo do rio. Subo a Rua das Vareiras, espreito a Rua Nova, entro na Rua da Ferreirinha. Uma fila de casas, com maior ou menor atrevimento, é ali precursora da nova arquitectura. Morre o crepúsculo. É a maneira de se verem, numa esmola de luz silenciosa, aquelas frontarias. Digo a minhas filhas: este casario, meninas, foi feito de sardinha e sal. Há sal na Régua…
- Da conferência de João de Araújo Correia Há Sal na Régua, in livro “Palavras fora da Boca”, edição da Imprensa do Douro (1972) - Peso da Régua, Matéria enviada por J. A. Almeida em Abril de 2011.