segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PRECE

Volta Jesus Cristo!

Volta a este mundo de sacripantas,
De escárnio e mal dizer.
Volta a esta terra de vaidade,
De desamor e egoísmo,
Fria e vazia como um poço abandonado,
Repleta de Sanhedrins da corrupção
E de Zerahs gananciosos.

Volta Jesus Cristo!

Volta à medula das nossas misérias
Para curares as chagas da inveja,
Perdoar com a serenidade de quem ama,
Limpar todas as Jerusaléns do nosso tempo.
Volta depressa às nossas consciências,
Aquecer a indiferença que nos rói,
Gritar uma esperança para amanhã
- Para sempre -
Não morrermos sozinhos e tristes.

Volta Jesus Cristo!

Vem dar força aos Nicodemus sinceros,
Encorajar os Josés de Arimateia verdadeiros,
Julgar todos os Tibérios modernos
Desprezar todos os Pilatos covardes,
Apontar os Barrabás perdidos.

Volta Meu Senhor e Meu Profeta!

Vamos falar aos que morrem de ambição,
Pregar a doutrina que nos salvará,
Escorraçar os que comem na opulência,
Agasalhar as crianças que tremem de frio,
Sem carinho, abandonadas como destroços.

Volta Jesus Cristo!

Para devolveres às pessoas o riso da vida,
Amar os que nada têm,
Ensinar de novo o que todos esqueceram.
Volta para me enxugares os rios da tristeza,
Nas angústias dos fins de tarde
E me abraçares nas horas de desassossego.

Volta Mestre!

Vamos berrar contra a alegria falsa,
Contra o sorriso falso,
Contra a amizade falsa,
Contra os irmãos falsos,
Contra os políticos falsos,
Contra toda a falsidade.
Quero ir contigo entoar a nossa Fé,
Derrubar os déspotas com a nossa Cruz,
Correr do Poder os que mandam sem saber.

Volta Jesus Cristo!

Eu quero abraçar-Te!

- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória".
  • Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "ForEver PEMBA". *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. A imagem ilustrativa acima, recolhida da net livre e composta/editada em PhotoScape, poderá ser ampliada clicando com o mouse/rato.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Evocação do Dr. Mário Bernardes Pereira

Quem se interessa pelos bombeiros habitou-se a estar atento ao que faz município reguense na área protecção civil para garantir a segurança da sua população, dos seus bens e vidas em situações de riscos, acidente e catástrofes naturais. Actualmente a Autarquia assume esta responsabilidade como se fosse uma das tarefas básicas e essenciais, para o que assegura o bem-estar colectivo de quem vive e visita a região como lugar turístico e património da humanidade. Para que nada falhe, a Autarquia organizou os serviços municipais e definiu e programou algumas acções de planeamento e de emergência. A primeira intervenção de socorro está confiada ao corpo de bombeiros. Com a direcção da Associação estabeleceu uma relação de cooperação e de parceria. As ajudas concedidas são para garantir um nível de prontidão e uma eficácia elevada nos serviços prestados pelos bombeiros. Além dos diversos apoios institucionais, a Autarquia paga metade dos salários de uma equipa permanente de cinco bombeiros e concede um subsídio anual de montante significativo que permite investir mais na formação pessoal, na aquisição de equipamentos de protecção individual e de veículos e na modernizações das instalações.

Mas, houve tempos em que este não era o normal relacionamento da autarquia com os seus bombeiros. Até ser eleito em 1930, o Dr. Mário Bernardes Pereira, conhecido médico e também escritor, como o Presidente da Comissão Administrativa, os bombeiros voluntários estavam dependentes da sorte e da contribuição da população reguense, sempre disposta a ajudar quando eles mais precisavam e sentiam dificuldades económicas.

Este autarca reguense foi o protagonista de uma reviravolta nas medidas e apoios que até então a câmara municipal dava aos seus bombeiros para se organizarem como uma estrutura de socorro municipal.

Antes de ser eleito como autarca, o Dr. Mário Bernardes Pereira tinha exercido o cargo de presidente da Direcção dos Bombeiros da Régua. No seu curto mandato não pode deixar, como quereria, uma obra vistosa. Ao tempo, a Associação era uma casa pobre. Sobrevivia com fracos recursos financeiros e das muitas ajudas dos sócios contribuintes e de beneméritos. Os bombeiros mantiveram os seus primeiros quartéis em casas velhas, sem o mínimo de condições. Os meios materiais eram escassos, para trabalho diário havia uma ambulância velha e, para o combate aos fogos urbanos, um único pronto-socorro. Sem subsídios do governo nem do município, estiveram à beira de se extinguir, mas um grupo de grandes e dedicados bombeiros tudo fez para evitar esse fim inglório. Sobreviveram com a carolice popular, a ajuda de beneméritos, como D. Branca Marinho, Manuel de Carvalho, Feliciano Monteiro Guedes, José Vasques Osório, D. Cândida Braz Fernandes e marido Dr. Antão de Carvalho, Zélia de Carvalho, viúva Vilela, Dr. Bernardino Zagalo, João Coelho da Silva e Jaime de Sousa, da angariação de fundos através da realização do bazar, peditórios, sorteios, espectáculos de teatro, recitas culturais e da organização de bailes. Acontecia que o Estado não os financiava e o apoio concedido pela câmara era de pequeno valor, insuficiente para manter operacional o corpo de bombeiros.

Nesse período, entre 1910/40, a actividade dos bombeiros voluntários, se era qualificada de utilidade pública, não tinha um regime financiamento público definido. Durante a primeira república, o Estado tinha legislado um modelo que permitia que os municípios cobrassem às companhias de seguros um prémio dos seguros contra incêndios contratados com as pessoas dos seus concelhos (no valor de 2% a 3% nos municípios de 2ª e 3ª Classe), para assim poderem financiar os corpos de bombeiros. Porém, ao que sabe, nem todos os municípios faziam, na prática a aplicação desta lei e nem sequer garantiam aos bombeiros as condições de resposta, de acordo com as necessidades locais.
O início dos anos 30, na região do Douro foi de fome e de miséria para a maioria dos pequenos viticultores, originada pela baixa acentuada do preço do vinho, resultante da depressão económica mundial. O município da Régua sentiu as consequências nefastas dessa grave crise. Apesar de tudo, o Dr. Mário Bernardes Pereira definiu como uma prioridade do seu mandato dotar os bombeiros com instalações novas e conceder-lhes subsídio maior que satisfizesse as condições de operacionalidade. Conhecedor da realidade em que se encontravam, da falta de condições e meios, aquela débil organização tinha de ser apoiada pela autarquia de forma mais empenhada, para que a população beneficiasse de uma estrutura de socorro preparada e eficaz. Pertenceu ao vogal Jaime Guedes, também antigo director dos bombeiros e filho do Comandante Camilos Guedes Castelo Branco, a iniciativa de elaborar uma proposta para câmara deliberar o aumento do subsídio mensal – passava a ser do montante de 50 mil escudos anuais – e de se fazer de imediato a doação de uma parcela terreno com cerca de 200m2, que teve de ser expropriada na Av. da Liberdade – a actual Av. Antão de Carvalho – para que os bombeiros edificassem um quartel de raiz.

No país, a situação politica não era nada favorável aos bombeiros. Num governo saído da ditadura de 28 de Maio de 1926, o Ministro do Interior, António Lopes Mateus pensava fazer a militarização de todo o serviço de incêndios, o que por variadas circunstâncias não se concretizou. A vereação do Dr. Mário Bernardes Pereira mostrou-se indiferente a estas ideias absurdas e adoptava uma posição mais adequada à realidade, que via os bombeiros voluntários como a principal estrutura de socorro. A sua análise está fundamentada num texto de memórias que intitulou de “Evocação” - escrito em 1958 no jornal Vida por Vida - que pelo seu valor pedagógico e interesse histórico, se transcreve na íntegra:

“Movimento por longe minha vida, com as satisfações e as amarguras que o poder do tempo me atribui.

Trouxe comigo, no meu ser, laços espirituais que me prendem à terra em que nasci. Lutei, enquanto pude, para que o meu esforço pudesse servir os interesses da Região que tem a Régua por capital. Hoje, afastado de posições activas, resta-me recordar.

O filme das minhas evocações a desenrolá-lo, seria demasiado longo. É forçoso fraccioná-lo; e depois encerrado num só sector, procurar revivê-lo.

Assim, porque vem a propósito, recordo os meus contactos com a Associação dos Bombeiros de há trinta anos, instalada aqui ou acolá, mas vivendo sempre da mesma mística, do mesmo entusiasmo. Comandava o seu Corpo Activo Camilo Guedes, poeta de raro merecimento vivido na preocupação de se esquivar à fama. Produzia versos como a silva dá amoras, sem esforço nem artifícios. No quartel da Rua dos Camilos, a sua presença criava uma atmosfera de respeito e afectividade.

Não sei porquê, encontrei-me a presidir à Direcção. Pouco podia realizar-se naquela casa pobrezinha onde faltava pecúnia e sobravam aspirações e boa vontade. À margem da directoria, a minha deformação profissional levou-me a tentar umas lições sobre socorros urgentes a sinistrados; porém a carência absoluta de material anulou o interesse dos alunos e, com o deles, o meu.
Foi nessa qualidade de director que, num jantar de gala, no edifício do Asilo V. Osório, tive de saudar o presidente da vereação; dos cumprimentos passei às lamentações e às frias considerações orçamentais. Mostrei quanto era injusta a atitude da Câmara para com os bombeiros, Tudo se resumia à concessão dum subsídio mensal demasiado pequeno, em face dos encargos que o município viria a contrair se viesse a organizar os seus serviços de incêndios, no dia em que a Associação, privada de recursos tivesse de findar. Bem sabia eu que não findava, Rodeava-a, certo carinho dos particulares; e, no coração dos bombeiros havia, (e continuada a haver) abnegação e fé.

Fiz o discurso e tudo ficou na mesma. Ninguém estranhou e eu não estranhei. Mais consegui, seguidamente, a brincar, do que naquele momento a sério. Armei em revisteiro, Ninguém se lembra já da “Régua-Filme”, revista em alguns actos e uns tantos quadros. Estamos velhos, os que restamos da estranha companhia teatral. A revista era um pastelão que eu cozinhei como pude, criando a letra e a música dum número en¬quanto me deslocava para ver um doente e carpinteirando um quadro à noite à espera do sono. Copiei algumas figuras do original, comentei com irreverência os sucessos da terra. Ninguém se zangou. Alguns “actores” foram admiráveis nas suas rábulas. Os que assistiram lembrem-se, por exemplo, do Henrique Teixeira!

Parte das receitas coube ao Bombeiros, como era natural!

Foi então que o acaso me levou à Comissão Administrativa da Câmara. Mais que, o acaso, a circunstância de se terem colocado a meu lado alguns rapazes, bairristas e de valor. Não sei compreender o ambiente de carinho que, naquele momento, suavizou à nossa volta os embates políticos. Puderam ser examinados os principais problemas administrativos; e lá estava sempre o capitão Araújo fazendo, com as verbas, jogos malabares, para tornar possíveis as realizações. E assim é que os Bombeiros levaram o seu aumento de subsídio e receberam o terreno para edificarem a sede. A par do auxílio material, procurou-se promover uma justa consagração moral: acima do louvor, era indispensável que os Altos Poderes do Estado se pronunciassem. Por mais que a justiça se evidencie, a máquina burocrática tende frequentemente a emperrar. Mas não persistiram obstáculos perante a evidência das razões; e a Associação foi agraciada com a Ordem de Benemerência. Mais tarde, viria a de Cristo elevar o nível da consagração.

Nós, os da vereação, éramos um grupo de novos, inexperientes, cheios de boa-fé. Poucos sabíamos de facciosismos manobras políticas (não é assim, oh Jaime!) mas éramos, de puros intentos e amigos da nossa terra. E, porque a Associação dos Bombeiros bate fervorosamente o coração da Régua, nunca teríamos satisfeita a consciência bairrista se não nos sentíssemos irmanados, nas mesmas aspirações, com os devotados membros da Instituição.

Cerimónias particulares, actos protocolares, esqueci a maior parte porque mal pude senti-las; prazer, elevação, orgulho de reguense, tive quando por via do meu cargo condecorei e abracei o patrão Álvaro no salão nobre da Câmara!

Hoje, recordando a entrega, solene do terreno à gloriosa Associação Humanitária, participo, em espírito, do entusiasmo com que a nova sede é inaugurada e formulo, para os Bombeiros os mais sinceros votos de prosperidade”.

Quando nos anos 30, o Estado fazia muito pouco pelos bombeiros voluntários, o município da Régua tomava uma decisão politica que, não sendo inédita no contexto nacional, mudava a filosofia de relacionamento e de apoio aos bombeiros. Aproveitando a sua experiência de dirigente associativo, o Dr. Mário Bernardes Pereira mudava a má relação de convivência e, ao mesmo tempo, fazia com que os bombeiros elevassem o seu moral e a qualidade dos serviços prestados.

Esta deve ter primeira parceria do município reguense com os seus bombeiros. Foi um novo paradigma para o seu futuro que, apesar de novas dificuldades e tormentas, se tornavam uma força de socorro mais dinâmica e, sobretudo, melhor preparada para enfrentar suas missões de socorro. Em tempos difíceis, o Dr. Mário Bernardes Pereira provava que um sistema de protecção civil municipal tem de articular sempre com os bombeiros, a quem se devem garantir os meios essenciais.
Num presente tão incerto como o que vivemos, no início deste século XXI, o exemplo excepcional do Dr. Mário Bernardes Pereira deve ser evocado pelas suas próprias palavras e destacado como boa prática, nem que seja para servir de um ensinamento para todos aqueles que tem a responsabilidade de garantir no concelho de Peso da Régua, a protecção e o socorro de vidas e bens.

Pelo que nos bombeiros da Régua, as gerações vindouras devem gravar numa pedra de memórias os nomes destes dois reguenses – Mário Bernardes Pereira e Jaime Guedes – e, ao seu lado, o de Dr. José Ernesto de Sousa e de Camilo Guedes Castelo Branco, que eram, respectivamente o presidente da direcção e o comandante dos bombeiros, desses tempos difíceis de 1930, que contribuíram para que as novas parcerias entre a Autarquia e os bombeiros se intensificassem e, ao longo do tempo, tenham dado resultados positivos, sempre com o objectivo principal de garantir em qualquer situação de catástrofe aos cidadãos, um verdadeiro e eficaz serviço municipal de protecção civil.
- Peso da Régua, Novembro de 2010. Colaboração de J A Almeida* para Escritos do Douro 2010. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua de onde é natural e de figuras marcantes do Douro.
Jornal "O Arrais", Sexta-Feira, 3 de Dezembro de 2010
Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua
A Evocação do Dr. Mário Bernardes Pereira - 1ª Parte.
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
A Evocação do Dr. Mário Bernardes Pereira - 1ª Parte
Jornal "O Arrais", Sexta-Feira, 3 de Dezembro de 2010
Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua
A Evocação do Dr. Mário Bernardes Pereira - 2ª Parte.
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
A Evocação do Dr. Mário Bernardes Pereira - 2ª Parte

    quinta-feira, 18 de novembro de 2010

    O QUARTO ALUGADO - IV

    Enquanto a Mãe mudava a água da floreira para lhe colocar novos gladíolos e margaridas, encostou-se às grades que desenhavam o jazigo de granito velho por muitos anos à chuva, ao vento, ao sol, à lua e à morte. Era sempre assim: trazia à lembrança a fotografia do Pai, que tinha na mesinha de cabeceira, e imaginava-o deitado com as mãos cruzadas no peito, indefeso e injustiçado. Mas nunca chorava. Nem uma lágrima. Olhava à volta, e todo aquele silêncio de cruzes e lápides era uma fatalidade repartida. Não tinha referências do Pai, nem um minuto de vida lhe conhecera, era um filho póstumo. Benzeu-se, deixou a Mãe recolher-se, e divagou por entres as campas na procura de caras conhecidas. Estavam lá algumas que lhe despertavam a memória, gestos e frases que lhes ouvira nos seus tempos de menino acabado de nascer. Aquele lugar era o reverso (ou o anverso?) da alegria, um aviso de efemeridade, a segunda certeza de que se existiu, um silêncio-resposta do Além, de qualquer ponto longínquo.

    - Vamos – pediu-lhe a Mãe numa voz sumida.

    Regressaram a casa mudos, como se tivessem recebido o chamamento de uma Razão Implacável. Debaixo das janelas, o Álvaro, já meio entornado, apregoava um quilo de batatas no leilão de fundos para a festa da Senhora do Monte. O Artur, sem alegria na voz, telefonou a comunicar a chegada. A noite daquele domingo de Páscoa desceu como um lençol a amortalhar o mundo.

    Dois ou três dias antes do fim das férias perdia o apetite, levantava-se tarde numa desforra antecipada dos dias em que teria de madrugar, vagueava pelos socalcos que cercavam a casa, não lhe apetecia falar e tornava-se nervoso. Até a Mãe, de rosto tenso, regressava a uma sisudez de viúva. Incomodava-o a solidão em que ela ficaria com a velha criada e as suas vestes negras a varrerem o sujo dos dias, as contas das folhas semanais dos trabalhadores, o peso duma herança e os sacrifícios para a manter, as idas à Capela e ao cemitério. A Aninhas - que já estava lá em casa quando ele nasceu, lhe limpara o rabo e lavara muitas fraldas –, acabada a limpeza da louça, tirava o lenço amarrotado do bolso do avental, assoava-se ou fungava, limpava os olhos, dava um «Ai...», e, antes de se ir deitar, dizia: «Menina, não vá esquecer o baú do Menino...» Eram os mantimentos para os primeiros dias em que a barriga lhe pedia um suplemento: bolinhos de bacalhau, presunto, salpicão, queijo, uma malga de marmelada, broa, chouriço, frango e carne assada embrulhados em papel prateado, um peso quase igual à mala da roupa, e que ele guardava como um Serra da Estrela, preocupado em não perder a chave do aloquete. Fazia a viagem no dia do início das aulas, que este era tempo perdido com apresentações, alguns professores, até, nem aparecendo. Nunca a Mãe se aborrecia com isso, porque, bem lá no fundo, tomara ela que ele ficasse.

    Se o almoço daquele derradeiro domingo de férias teve a benção de um sol primaveril que agasalhava a sala com um conforto que mais lhe tolhia a vontade de partir, o jantar foi o velório de uma alegria morta. A Aninhas – sentava-se sempre à sua direita - acariciava-lhe a mão e perguntava-lhe se queria mais alguma coisa para levar. A Mãe não levantava os olhos do prato e comia como se engolisse um remédio. Era tal o entupimento que quase se arrependia de já não ir no comboio, mesmo de pé, espremido entre a intimidante algazarra da magalada e o cheiro a mijo da retrete que não tinha sossego com o corrupio das bexigas. Os toques dos talheres salientavam o silêncio; os cães ladravam aos passos trocados das bebedeiras, correndo ao fundo do quintal para os reencontrar; o tempo, cadenciado pelo tiquetaque do relógio da sala, parecia que passava mais depressa.

    - Quando é que serão os teus exames? – perguntou a Mãe, desperta da letargia.

    - Lá para meados de Junho – respondeu, aliviado por lhe quebrar os pensamentos.

    - Vai correr tudo bem. Eu vou rezar a Nossa Senhora de Fátima – compôs a Aninhas com a sua velha doçura.

    - Só tenho medo é do Alemão – aproveitou.

    - Pensas fazer algumas orais? – fitando-o inquiridora.

    - Tomara eu não precisar... – murmurou.

    - Lá estarei, mas não vou ter coragem de assistir.

    - Mas tenho eu... – atreveu-se Aninhas.

    - Mulher... Tenha juízo... Quem ficava aqui? Fechava-se a casa, era? ... Cada uma...

    - Aproveitava e ia ver a minha irmã que já não vejo há anos... - insistiu a velha criada.

    - Nas férias grandes vamos lá os dois...- atenuou João, diante dos olhos aguados da Aninhas que lhe agarrou mais a mão.

    - Levante a mesa! – ordenou, friamente, D. Carlota.

    João conhecia aquele modo: quando dominada por uma preocupação falava com uma secura tal que até ofendia as pessoas. Era, afinal, o jeito de se defender da desconsolação que a ameaçava; o resultado de muitos anos a engolir emoções. Sentindo-se à beira de quebrar, ganhava uma dureza que nem se sabia se era uma genuinidade de carácter, um fingimento de auto-defesa ou o treino de muitas lutas interiores. A sua rispidez era uma confissão, não assumida, de fragilidade; só não sabia que a Mãe, à noite, na escuridão do quarto, depois de os olhos cansarem na leitura, chorava as lágrimas que escondia de dia. A sua mesinha de cabeceira estava repleta de livros – sobretudo biografias – e lia muitos ao mesmo tempo. «Se não lesse, já estava doida! Mas livros que não sejam tristes. Para tristeza já chega a vida!», dizia-lhe a cada passo.

    Quando saíram da mesa, enquanto a Mãe lavava os dentes e a Aninhas a loiça, João veio ao terraço fumar um cigarro, sempre a olhar para não ser visto. Ainda não se atrevera a pedir-lhe autorização para fumar e desconfiava se algum dia o faria. Ela cheirava-lhe o fumo, mas fingia que não sabia; e nesse jogo de esconde se ficavam. Sentou-se na sala, em frente do televisor, nem se rindo com o Homem Invisível a dar murros a torto e a direito.

    - Vê se estudas, meu filho, ouviste?

    - Não se preocupe, minha Mãe.

    Levantou-se, deu-lhe um beijo - sentiu-lhe os lábios trementes -, e subiu as escadas que davam para o seu quarto.

    - Não te esqueças de fechar a televisão quanto te fores deitar - disse-lhe do cimo. – Dorme bem. João, pouco depois, desligou a televisão, foi à cozinha despedir-se da Aninhas, que já pendurava o avental, e meteu-se no quarto. Adormeceu com os cães a ladrar aos fantasmas da noite.

    Mal transpôs os portões, perguntou pelo Artur. Também faltara no primeiro dia. Sentou-se na sua carteira e estranhou que a dele tivesse ficado vazia. Aguardou-o toda a manhã. Esteve quase, no intervalo do almoço, a meter-se a caminho da casa dele, mas, talvez, não lhe sobrasse tempo para a primeira aula da tarde. Não podia arriscar mais faltas, ainda por cima no terceiro período. Pensou em telefonar, mas enojava-o ter que pedir a chave do telefone ao Francisco, muito menos à Alzira. Era uma das coisas que o arreliava, uma desconfiança desprezível que suportava com pena deles. Quando a campainha do último tempo tocou, apressou-se no regresso ao quarto, acabou de arrumar umas roupas que deixara em cima da cama, fez que jantou, foi ao baú atirar-se à carne assada, antes que ficasse seca, e saiu. Subiu Santa Catarina e tomou um café aldrabado numa confeitaria de esquina. Chegado ao Marquês, virou para Latino Coelho com tempo de ouvir a algazarra das raparigas do Colégio da Paz. O andar do Artur ficava no fundo da rua, por cima de uma garagem. Admirou-se por ser a D. Dulce a abrir-lhe a porta.

    - Entra, João! Entra! Sejas bem aparecido! – saudou-o, enquanto lhe dava um abraço que nunca mais acabava.

    - O que se passa, D. Dulce? – perguntou, as pernas a tremelicar, quando lhe viu os olhos alagados. – É alguma coisa com o Artur?

    - É - acenando, desalentadamente, que sim, limpando os óculos ao lenço. – Senta-te, senta-te.

    - Mas, D. Dulce, por favor...

    - Pronto, eu digo-te: o Artur foi para Paris! Já sabias?...

    - EU?!

    - Queres um café ou um chá? Eu vou beber um chá.

    - Não quero nada. Está bem, um café, então, por favor.

    Aturdido, João relembrou o fastio de Artur naqueles dias de férias, o seu desencanto aldeão, a despedida exagerada e triste, o seu telefonema de chegada em tom de adeus. Não despercebera esses pormenores, nunca, porém, os ligara a essa antiga fantasia.

    - Queres com muito ou pouco açúcar? – perguntou-lhe, da cozinha, D. Dulce.

    - Uma colher, por favor – respondeu. – Mas - prosseguiu João, enquanto ela punha o tabuleiro na mesinha de centro -, foi assim sem mais nem menos? Não deu razões nenhumas?

    - Sabes que ele tinha, há muito tempo, aquela ideia encaixada. - Pousou a chávena na mesinha e, entrelaçando as mãos sobre o peito, recostou-se no sofá. – Que me dizes?...

    - Nunca pensei que fosse a sério.

    - Ele não te falava nos problemas cá de casa? Enfiou que eu o abandonara só porque conversava com aquele senhor que tu chegaste a ver...

    - ...

    - Julgava que eu ia casar ou tinha alguma coisa com ele. Quando ele veio de férias de tua casa, houve aqui uma discussão enorme. Ele trouxe-lhe uma lembrança de Cascais, um pisa papéis, mas, mal o recebeu, deitou-o ao chão e berrou que nunca quereria nada dele. Malcriado para aqui, malcriado para ali, olha, se não me meto no meio, batiam-se à minha frente. Quando eu estava no quarto de banho, ouço um restolho medonho e verifiquei que ele tinha batido no Artur. Não lhe perdoei, nem perdoo, abri-lhe a porta e, aqui, não entra mais.

    - ...

    - Ao outro dia, quando cheguei da mercearia, vejo que ele tinha uma mala à porta. - «Vou para França, não fico mais aqui!» - Assim, sem mais nem menos. Podes imaginar o que lhe pedi, o que me enervei, o que chorei. - «Já te disse, Mãe, podes ficar com ele, eu fico comigo!» - disse-me em lágrimas.

    - Mas...

    - Ele pensou que fosse tudo fingido. Convenceu-se que tinha feito aquilo só para lhe agradar, fazer de conta.

    - Não lhe falou que, antes que o chamassem para a tropa, ele estaria longe?

    - Mas eu cansei-me a repetir-lhe que, se fosse preciso, tenho conhecimentos que o livrariam de ir. Até falei em ti, que, também, te poderia dar uma ajuda.

    - Obrigado D. Dulce, oxalá não precise.

    - Conheço um General que não recusa um pedido meu. Não, João, ele já tinha aquela fisgada. Fez-se, durante alguns minutos, um silêncio embaraçoso. João olhava a televisão, sem som, transmitindo imagens de soldados na selva, um helicóptero a pousar, levantando poeira, e, depois, a erguer-se com uma maca colada à fuselagem.

    - Posso ir ao quarto de banho? – pediu.

    - Está à tua vontade – assentou D. Dulce, sem despegar os olhos do écran.

    João parou, por instantes, diante do quarto de Artur. Tinha o arrumo das coisas não usadas: a colcha de flores vermelhas parecia a mortalha de um gavetão de cemitério e os livros, na estante, gritos encolhidos à espera de uma oportunidade para se soltarem. Veio-lhe, de repente, uma sensação de abandono, um sentimento de excluído, um frio (ou um calor?) de cobardia. Fechado na casa de banho, enquanto lavava as mãos, reparou que, na prateleira, por baixo do espelho, nada ficara dele, nem, sequer, a pedra pomos com que costumava cicatrizar o sangue das espinhas do pescoço, depois de fazer a barba. Ele fora-se sem lhe dizer nada, sem uma tentativa de incitamento para o seguir, uma partilha de segredo, “grande sacana, não confiou em mim!”.

    - D. Dulce, não sabe se o Artur foi sozinho ou com alguém? Quando é que ele foi, afinal? – sentando-se, novamente, no sofá.

    - Cheguei a ouvir um telefonema para um tipo qualquer. Acho que relacionado com essa coisa da Aliance Francaise. Disse que me escreveria mal chegasse. Sinceramente, não sei o que aquele rapaz vai fazer...

    - E quando foi? – insistiu João.

    - Na sexta-feira passada.

    - A Senhora pode não acreditar, mas ele não me disse nada, nem uma palavra, acredite.

    - Claro que acredito. Diz-me uma coisa – virando-se para ele e fitando-o seriamente -, tu concordas com o que ele fez? Mas sê-me franco!

    Ficou sem saber o que responder, encolheu os ombros no estilo «que hei-de eu dizer?!...», recostou-se e olhou para o tecto. Era a única pergunta que não esperava.

    - Deixa-me fumar um cigarro? – atreveu-se já a remexer no maço de Porto.

    - Aquele meu filho...- chegando-lhe o cinzeiro amarelado de nicotina. - Não me respondeste...

    - Não, D. Dulce, agora não ia.

    - ...

    - Primeiro acabava o Liceu. Como é que ele vai fazer o sétimo ano? Ainda há os adiamentos que se podem pedir na Faculdade, não é?

    - Eu disse-lhe o mesmo: «Vais deixar o Liceu por três meses, nem chega! É uma estupidez!» Sabes o que me respondeu? «A libertação não tem horas!» Aquele meu filho... Quando souberem que ele foi lá para fora como vai ser? Até tenho vergonha de lhe ir anular a inscrição! Que me vão dizer eles?! E o que lhes digo eu?!

    Mesmo com a janela meia aberta, estava abafado. Ou era ele que abafava. Teve vontade de se ir embora, confundir-se na neblina nocturna, misturar-se com as pessoas e o barulho dos carros, caminhar sem ter ninguém com quem falar ou, simplesmente, deitar-se.

    - D. Dulce, quando o Artur lhe escrever, diga-me, se fizer o favor. Ele tinha aí o telefone da casa onde estou, de qualquer modo vou-lho deixar.

    - Como me passou!... Quero o telefone da tua Mãe para lhe agradecer o ter aturado o Artur...

    - Não faça isso, por amor de Deus... Até foi bom, não a aborreci tanto...

    - Peço-te... Escuso de andar por aí atrás dos papeis dele ou telefonar para as Informações. Além do mais, quero convidá-la para, se alguma vez vier ao Porto, ficar aqui. É da maneira que falamos. Por favor, João...

    Deu-lhe, também, o telefone da aldeia, levantou-se, vestiu o casaco, voltou a sentir a ausência do Amigo, beijou D. Dulce que o puxou para si num novo abraço de emoção, prometeu – carregando no botão do elevador - vir mais vezes visitá-la e desceu. Estava quase a chegar ao rés-do-chão, ouviu-a, no cimo, a gritar pelo seu nome. Deixou parar aquele e voltou a subir.

    - Desculpa – estendendo-lhe um envelope -, o Artur deixou-me esta carta para ti. Com a conversa já me esquecia de ta dar. Dá cá mais um beijo e não me digas nada do que ele te diz aí, está bem?

    - Sim D. Dulce – enfiando o envelope no bolso, com o peito a latejar. Afinal o grande sacana não se esquecera dele...

    O choque com a humidade da noite arrepiou-o Estava cansado, parecia que levara um enxerto de porrada, tinha fome. Pensou ir pela Constituição, virar em S. Brás, voltar por João Pedro Ribeiro e descer Santa Catarina. Contudo, contornou a praça, passou pelo Asilo do Terço, sorriu aos chistes das prostitutas que, encostadas às portas das pensões ou sob a luz dos candeeiros, de saias apertadas e traseiros salientes, o convidavam para se estrearem, entrou no Coutinho e pediu meia torrada e meia de leite. Da mesa, encostada à montra, podia ver os carros a pararem, os condutores descerem os vidros, combinarem o preço, abrirem as portas e arrancarem. Outros, vinham, pé ante pé, chapéus sobre os olhos, em jeito de Edie Constantine, e entravam nas hospedarias de lâmpadas mortiças depois de lançarem um olhar esquivo às imediações. Enquanto mastigava a derradeira fatia – era sempre a do meio que melhor lhe sabia -, pensou se abriria já a carta ou a leria, calmamente, no quarto. Não tinha pressa, como se desejasse prolongar a expectativa, aquele prazer hesitante que se saboreia até ao limite da curiosidade. Optou pela segunda hipótese. Foi descendo, sem pressa. Deu-lhe para olhar o relógio. Já passava da meia noite. Devia ter estado, seguramente, mais de duas horas a falar com a Mãe do Artur. Condoera-se, mas pensou que, se fosse a sua, não o deixaria partir, nem que se estendesse no seu caminho. Ser-lhe-ia difícil uma atitude igual. Sonhava partir, um dia, isso sonhava, para onde se pudesse alargar, conhecer outros pensares, visitar os ícones da Literatura, aquelas referências históricas que a leitura lhe avivava. Mas fálo-ia sem ser espicaçado. Abandonar, assim, a Mãe, seria um remorso de que nunca se limparia. “Dá-me a impressão que até o Diabo me fazia uma espera... Que raio de ideia a deste gajo...E numa altura destas, com o Liceu na recta final... Teria sido aliciado?... Hum... Se fosse, mesmo que não pudesse, dizia-mo “, pensava João, Santa Catarina abaixo, colado aos prédios. Na esquina do Automóvel Clube de Portugal, cheia de carros de luxo, meia dúzia de caras ricas conversavam por entre gargalhadas que a madrugada estendia.

    Quando abriu a porta da casa, ouviu a tosse do velho. Devia ser a dizer-lhe que, por causa dele, acordara. “Grande cabrão, se fosses mas é ver com quem é que a puta da tua mulher te anda a pôr os cornos!“, mastigou. Pôs a almofada atrás da cabeça e leu a carta.

    ""João, meu Amigo:

    Tenho a certeza de que, quando deres pela minha falta às aulas, virás falar com a minha Mãe. Pedir-lhe-ei, antes de partir, para te entregar esta carta. Não me despeço pessoalmente porque sei que não concordas com a minha decisão. Poupamo-nos os dois: tu de falares, eu de te ouvir... Aconteça o que acontecer serás sempre o meu melhor Amigo. Escrever-te-ei todas as vezes que puder e vou ter muitas saudades tuas. Acredita.

    Parto com o Monteiro, aquele tipo de que te falei, a quem a puta da Pide matou o Pai, naquela maldita casa da Rua do Heroísmo, sabes?, e mais um tipo que ele me apresentou. Em San Sebastian há quem nos oriente até Paris.

    Não tenho culpa de ter nascido aqui, neste rectângulo dominado por um jardineiro odioso que corta os rebentos e só deixa medrar as ervas. Não foi (minha Mãe vai, naturalmente, falar-te disso) a zanga com o seu querido (apesar de o ter corrido, vai voltar a chamá-lo, vais ver) que me impeliu. A marca vai ficar com ele e não comigo. Decidi-me em tua casa, nos dias que lá passei. O fatalismo e a soturnidade daquelas pessoas é ultrajante e mortal. Antes de enterrados já estão mortos. Vivemos numa terra em que o sol nasce sem uma esperança – uma mínima esperança, João - de um dia sermos diferentes e diversos nas opiniões, nos risos e nas lágrimas; livres, sem bufos nem vigias, com a certeza de que é melhor perdermo-nos na liberdade do que enfileirarmos na escravatura. Disseste-me, um dia – se calhar já nem te lembras -, que o futuro pertence àqueles que içam as velas. Lá vou eu, então, manobrando-as ao sabor dos ventos e das marés. Não sei se me afogarei, só sei que o prefiro a continuar à tona deste lago de podridão. Pode-te parecer precipitado sair, assim, com os exames à porta, mas há momentos em que tem de se arriscar tudo, mesmo à proximidade de um fim, hipoteticamente feliz que seja. Chama-me doido varrido, o que quiseres... Apesar desta Pátria não ter uma centelha de sobressalto, ser uma permanente escuridão, os seus olhos lampadários fúnebres e as suas bocas acentos de amargura, não sei se vou ficar muito ou pouco tempo sem a lembrar. Pode ser que isto mude e já não valha a pena estar longe; pode ser que a guerra do Ultramar acabe e já não tenhamos os pescoços no cadafalso. Mas não é apenas a recusa da guerra, a dúvida de morrer imolado na teimosia de um ditador de falsete que me leva a partir. Mais do que isso: é uma desilusão de sociedade encarcerada e, por isso, desconfiada, servil e bronca, que aceita tudo como se a vida fosse uma desgraça fatal. Não quero ser como esta gente e, antes que se me apegue o mesmo mal, vou aprender a falar sem medo. Afinal não é o Mundo só um e as fronteiras a sua aberração?

    Oxalá entres na Faculdade e a guerra acabe antes de te chamarem! Desejo-te todas as felicidades!

    Dá cá um abraço! Faz força comigo!
    Artur""

    João, durante longos minutos, ficou de olhos especados na parede em frente da cama. Antes de se deitar achou o quarto mais inóspito, velho e gélido qual uma sala de Notário; os livros, em cima da pequena secretária, pareceram-lhe Códigos de leis injustas. Até o sono chegar, imaginou o Amigo aos saltos nos boulevards parisienses.
    - Conto de M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória".
    • Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "ForEver PEMBA". *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. A imagem ilustrativa acima, recolhida da net livre e composta/editada em PhotoScape, poderá ser ampliada clicando com o mouse/rato.