sexta-feira, 8 de julho de 2011

DOURO, MEU BELO PAÍS



Douro, meu belo país do vinho e do suor,
bárbaro canto arrancado à penedia
por um destino que nos faz andar
da alma para os olhos, dos olhos para a alma!
Douro, eh lá, uma nova era se anuncia
e traz aos nossos ouvidos uma promessa de rosas.
Ouço já o crepitar das metralhadoras da paz,
esses corações de aço que se chamam tractores.
Ouço-os e uma visão de terra alegre,
alegre como um tesoiro descoberto,
rasga-se, sob o nosso espanto, na tua carne.
Não mais as horas fechadas como punhos
e os morros inóspitos de carqueja bravia.
O tempo estender-se-á na nossa esperança,
claro, claro como um leito nupcial;
nos valados correrá um sol caudaloso,
fulminando, ao seu contacto, os fantasmas da miséria.
Eh lá, Douro, meu belo cavaleiro enamorado
por uma dama que fugia na tua angústia,
depõe, finalmente, os velhos trapos
de matagais, escombros e vinhas amortecidas.
As enxadas deixarão de cavar o desespero;
o ferro e a pá arrumar-se-ão nos arquivos da memória.
Onde irá o tempo das vacas magras
quando um tractor cantar em cada monte
a deliciosa canção da fecundidade?!
Haverá muitos tractores, haverá mais armas
apontadas aos baluartes da fome.
Haverá mais pão, haverá mais rosas.
Eh Douro, meu belo país!
                     
- Do poeta duriense António Cabral, in Antologia dos Poemas Durienses. Clique na imagem acima para ampliar.
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Em memória de António Cabral:
Colaboração de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2011.

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