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segunda-feira, 22 de março de 2010

Visita do Ministro do Fomento ao Quartel dos Bombeiros

Hoje, é de dia de concentrar a atenção num interessante artigo publicado pela revista “Ilustração Portuguesa”, nº 541, de 3 de Julho de 1916, sobre visita do Dr. Fernandes Costa, Ministro do Fomento, ao quartel dos Bombeiros Voluntários da Régua, ainda ele se situava no Largo dos Aviadores, em edifício, por sinal, ainda existente.

Nesse artigo se divulgam duas fotografias do primeiro quartel que serviu os bombeiros da Régua até meados dos anos 20 do século passado. Dele não se conhecia mais do que a fachada principal, fotografada para ilustrar um postal de colecção editada por José Alves Barreto.

As duas fotografias permitem-nos recordar a fachada com a sua varanda espaçosa, onde uma larga placa anunciava o nome da associação, e também parte do interior, a famosa sala de reuniões dos associados e dos corpos directivos.

Uma visita de tão ilustre governante da primeira república e da não menos ilustre comitiva que o acompanhava, que integrava o Dr. Câmara Pestana, director geral da agricultura, o Dr. Nuno Simões, Governador Civil do Distrito de Vila Real, o senador Jerónimo de Matos e o jornalista reguense Camilo Guedes Castelo Branco, representou elevado significado social e promocional dos nossos bombeiros.

Sua Excelência, o Ministro do Fomento deslocara-se à Régua no âmbito de visita a toda a província de Trás-os-Montes, em apoio da exposição agrícola de produtos regionais, realizada em Agosto, integrada no programa das Festas do Socorro. Anunciava a revista que se tratava duma mostra “de produtos da região e uma parada em que figuravam os seus melhores exemplares pecuários”.

Na peça jornalística a que nos vimos referindo o Dr. Bernardino Zagalo era elogiosamente referido como “incansável em promover a prosperidade daquele empório dos vinhos portugueses”. Com razão o fazia, pois era o Dr. Zagalo um prestigiado advogado com escritório no Largo dos Aviadores, embora natural de Lamego, o autor da iniciativa e o principal responsável pela sua organização.
Para além de escritor, com obras publicadas, como a conhecida peça de teatro “Heitorzinho”, era uma figura respeitada e influente. Tinha grandes amizades entre as pessoas que constituíam os corpos gerentes e o corpo de comando dos bombeiros, algumas das quais integraram as comissões das Festas do Socorro.

Conhecedor das dificuldades locais para levar a bom porto um evento daquela envergadura, o Dr. Bernardino Zagalo tratou de congregar todos os apoios possíveis. A Câmara Municipal cedeu a espaço da Alameda para instalação das exposições, várias salas dos Paços do Concelho para a realização de conferências sobre temas agrícolas. As instituições sociais mais representativas e dinâmicas prestaram a sua colaboração de acordo com as suas possibilidades. As condições do edifício sede dos bombeiros no Largo dos Aviadores não eram famosas, mas tinha a particularidade de oferecer espaço para albergar um bom número de visitantes. Em espírito de colaboração e de defesa dos interesses da sua terra, a Direcção colocou generosamente as suas instalações, à disposição “dos visitantes de fora da região alojamentos e outras comodidades no edifício da sua sede”.

Este é mais um dos casos em que os bombeiros da Régua puseram em evidência o valor da sua intervenção junto das populações, para além dos fogos e dos desastres.

Sendo a sua principal missão prestar protecção e socorro a bens e vidas da população, nunca deixaram de colaborar com a comunidade em realizações culturais, recreativas, desportivas e de solidariedade social. É o traço marcante da sua matriz desde o momento da sua fundação. Quando é necessário, os bombeiros, como força social, nunca deixam de marcar a sua generosa presença na lida com as causas sociais que interferem na qualidade de vida e bem-estar das pessoas e no desenvolvimento sócioeconómico da sua região.

Em 1916, os bombeiros empenharam-se activamente na realização da primeira Parada Agrícola que se realizou na Régua. Compreenderam que estava em causa o futuro da sua terra e da prosperidade da comercialização dos seus vinhos ao chamar a atenção do país para as potencialidades económicas da região duriense, ao mesmo tempo que consagrava a Régua como lugar de excelência de actividades comerciais.

Se a feira agrícola da Régua ganhou importância e sucesso públicos, durante alguns anos, ao esforço do Dr. Bernardino Zagalo o deveu. Após a sua morte, os reguenses nunca mais realizaram uma feira agrícola igual à que ele idealizou e concretizou, vai para as proximidades dum século. Para bem se conhecer o Dr. Bernardino Zagalo é de toda a conveniência ler uma crónica de Joaquim Pires (pseudónimo do Dr. João de Araújo Correia), publicada em 1978 no jornal “O Arrais”, onde salienta a personalidade deste ilustre cidadão como o brilhante mentor da referida exposição agrícola. Lembra-nos o seguinte:
(Clique nas imagens acima para ampliar)
“Mas, não é por ter escrito livros, e dezenas de artigos de jornal, que o Dr. Bernardino Zagalo, merece ser recordado pelos reguenses. É que foi ele o maior propulsor, o maior animador das festas do Socorro. Com grande visão de artista cenográfico, tentou dar a essas festas um cariz que as distinguisse de festas similares. Quis que nas procissões figurassem, sem irrespeito à religião, elementos etnológicos tão graciosos como os bois mansos, que figuram nas procissões de Lamego. Quis, sobretudo, que o número principal das festas do Socorro fosse o seu sonho, aquilo a que chamou com alguma originalidade, Parada Agrícola. Quis que a Régua mostrasse, nessa exposição, tudo o que vale como centro produtor dos melhores frutos, nela incluindo os melhores vinhos do mundo – tanto generosos como de consumo. Quis que se mostrassem na Parada as colossais abóboras das nossas terras fundas, batatas comparáveis a cabeças de doutor obtuso e o mel virgem, desabrochado entre rosmaninhos, urzes e estevas do Viando e outras partes selvagens. Mas, tudo perfumado de notas folclóricas – flores de ao pé da porta e prodigiosas rendas e bordados de mão caseira.

Falecido o Dr. Zagalo, morreu a Parada Agrícola. Morreu a macaca, acabaram as pantominas – como diz o povo. Mas, não seria justo que a Régua recordasse, de qualquer modo, o fundador da Parada? Não se faz caso do escritor, se não se tiver curiosidade de ler o que escreveu. Mas, o grande amigo da Régua não deve ser esquecido”.
- Peso da Régua, Março de 2010, J A Almeida.