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sábado, 3 de julho de 2010

Os talentos de Carlos Cardoso

Por Dr. Aires Querubim Meneses de Soares*

Não sou nem nunca fui homem de grandes louvores e homenagens a outros homens, especialmente, quando estes ainda são vivos, ou seja, quando permanecem no campo da batalha, desempenhando ainda as suas funções.

Recordo, com imensa saudade, um professor que tive no 7º ano do Liceu (actualmente 12º ano) e que, além de Filosofia e Organização Política, dava a todos os seus alunos grandes lições de vida. Dizia ele: - os homens, enquanto cá estão, não se louvam nem se veneram; os santos só sobem aos altares depois de morrerem; mas, se forem grandes, merecem destaque e homenagens. Sempre assim pensei.

Homenagear é, sobretudo, semear exemplos, apontar caminhos e implantar marcos que orientem os presentes nestes tempos de desconstrução de valores humanos e do direito natural.

É o que com este livro pretende fazer o seu autor, por isso, está a cumprir um dever de cidadania ao divulgar e ao acentuar o exemplo deste homem grande no físico e na alma.

E há uma coisa que gostaria de revelar e proclamar: o grande amor que o Carlos Cardoso tinha pela sua terra. Ele vivia com entusiasmo e alegria o progresso da Régua e sofria, tantas vezes em silêncio, com os problemas e as necessidades não resolvidas da terra a que tanto queria.

Este amor à terra onde nasceu, cresceu e se realizou é também um sinal de grandeza dos homens.

Só é possível ser fiel às grandes causas quando se é capaz de ser fiel às coisas mais pequenas. Só é capaz de solidariedade internacional quem for capaz de ser solidário com o seu vizinho e com a sua família. Só ama verdadeiramente a pátria quem amar a sua aldeia, a sua cidade, o adro onde jogou à corda, o largo onde lançou o seu peão.

O Carlos Cardoso foi um grande português que, primeiro, foi um grande reguense; foi um grande Comandante dos bombeiros de Peso da Régua e, por isso, um grande bombeiro de Portugal a quem a Liga atribuiu as mais altas condecorações.

O Carlos Cardoso vivia as dores e aflições dos doentes e, logo, se interessou tanto pelo Hospital de D. Luís e foi um dos seus melhores membros do Conselho de Administração.

Porque sentia as necessidades do seu próximo é que foi um grande Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua na gestão do dia-a-dia e no planeamento das obras que foram nascendo e crescendo.
O Carlos Cardoso foi um exemplo vivo de que a verdadeira amizade é a que começa pelos que nos são mais próximos.

A solidariedade praticada e não, apenas, proclamada só é possível com o vizinho, o amigo, a família e o conterrâneo, porque conhecemos o que precisam e eles sabem o que somos capazes de dar. A solidariedade de palavras não custa nada a quem fala e nada aproveita a quem dela necessita.

Foi o exemplo do Carlos Cardoso: homem de poucas palavras porque precisava de tempo para a acção que levava, transforma e alimenta as pessoas com quem nos cruzamos e as comunidades em que estão inseridas.

Mas a acção nunca lhe tirou a fé, a reflexão e a razão. Sem estas três coisas, o homem de acção trabalha como um robô: faz coisas como uma máquina que vomita produtos. No princípio "erat verbum". Antes da acção está a palavra, o pensamento, o logos que a humaniza, que transforma os factos em actos humanos.

A palavra e o pensamento são como que o útero de onde brotam as acções.

O Carlos Cardoso foi um cidadão exemplar: amou a sua cidade, a sua pátria pequenina e, neste amor, fundamentou o seu amor à terra maior que é Portugal; juntou sempre o amor a Deus com o amor ao próximo e, por isso, foi piedoso sem nunca ter sido beato; foi um cristão que sempre deu testemunho da sua fé. Dar testemunho não é ser testemunha; dar testemunho é imitar o outro, fazer o que outro fez e não apenas relatar, como faz a testemunha, o que viu outro fazer; amou a sua família com grande dedicação no centro da qual estava sempre a sua esposa e todos os seus parentes e afins que nele viam um exemplo de vida. Neste momento, não se pode esquecer o grande esteio, a grande vértebra e o grande dínamo de Carlos Cardoso: a Sra. D. Cândida. Foi ela a sua grande confidente e animadora, sem nunca se fazer notar, sem jamais querer ser "senhora comandanta", "senhora administradora" ou "senhora provedora".

Para ela aqui fica uma palavra de profunda amizade e gratidão. Se o Carlos lhe deu muitas alegrias e foi o seu orgulho, a Sra. D. Cândida foi sempre uma bengala de coragem, de força e de amor.

Parabéns, Sra. D. Cândida!

Ao autor, que conheço há muitos anos e com quem nunca convivi de perto, deixo a expressão do meu respeito que lucrou em amizade, após a conversa que tivemos em Vila Real, e ganhou merecimento com a leitura deste seu livro. Ao escrevê-lo está a semear os valores humanos e cristãos que alimentavam a vida do Comandante, do Administrador e do Provedor Carlos Cardoso e a mostrar-se solidário com toda a comunidade da Régua, onde ele nasceu e pôs a render os seus talentos.
*Presidente da Direcção da AHBV do Peso da Régua (1972-1980)
(Clique nas imagens acima para ampliar)

NOTAS:
  1. - O título é da responsabilidade do autor deste arquivo
  2. - Este texto é o prefácio que faz parte do livro “O Comandante Carlos Cardoso”, da autoria de Damas da Silva, editado pela Garça Editores, lançado no dia 28 de Novembro de 2009, por ocasião das comemorações dos 129 anos dos Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.

- Colaboração de J A Almeida para "Escritos do Douro". Peso da Régua, Julho de 2010.