Se há reguenses do nosso tempo que merecem ser homenageados, um deles, é o senhor João Pereira.
Em boa hora, a Santa Casa da Misericórdia do Peso da Régua tomou a decisão de evocar a sua memória. A ideia é de homenageá-lo como um seu distinto provedor e como um insigne cidadão reguense com méritos reconhecidos na vida pública.
Aplaudo quem decidiu esta iniciativa. Sensibiliza-me este reconhecimento que lhe vai ser feito. Como seu amigo sinto-me honrado por me deixarem associar à sua homenagem. Faço-o com todo o gosto e, não apenas num gesto de amizade, mas pelo que represento como presidente da direcção dos bombeiros da Régua.
O senhor João Pereira, como nós, fez parte dos órgãos sociais da briosa associação humanitária. Exerceu vários cargos directivos com relevo para o lugar de vice-presidente da direcção. Em 1967/68 fez parte da Direcção liderada pelo Dr. José Viera de Castro e em 1984/87 integrou Direcção presidida pelo Dr. José Luís Soveral Andrade. Em qualquer uma dessas passagens pelo quartel Delfim Ferreira ele trabalhou e deixou obra feita para o engrandecimento dos Soldados da Paz.
Conheci o senhor João Pereira, na idade de homem maduro, nas bancadas do velho Campo Artur Vasques Osório, a assistir a um jogo de futebol do Sport Clube da Régua. Segundo me contaram, nesse ano, pertencia à sua direcção. Para mim, ainda só era o competente chefe da Estação dos Correios, onde o meu pai trabalhava. Nessa primeira vez, testemunhei o seu entusiasmo pelo desporto e pelas cores da equipa da nossa terra. A partir daí, fiquei a admirá-lo pela sua amabilidade e simpatia.
Não sei dizer ao certo, mas tempos depois, encontrei-o nos estúdios da antiga Rádio Alto-Douro, a fazer brilhantes relatos e comentários de jogos de futebol. Sentia-se que havia conhecimento e paixão nessa matéria desportiva, e era um comunicador simpático e entusiasmante com os ouvintes. Em Agosto, muito antes de começarem as grandiosas Festas do Socorro habituei-me a vê-lo nas comissões que organizavam as majestosas procissões e os brilhantes arraiais do rio. Em fase mais recente, lembro-me de seguir a sua actividade cívica e política como autarca do nosso concelho. Chegou por mérito próprio ao executivo da Autarquia. Competente como era, como seu vereador, dirigiu pelouros de importância e de responsabilidade. Quis o destino que pertencêssemos, representando partidos diferentes, à mesma vereação da Câmara Municipal. Conheci-lhe, assim, de perto as suas ideias e os seus sonhos que procurava concretizar: fazer as obras necessárias para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Se todos os vereadores tivessem, como ele tinha, esta visão…!
O senhor João Pereira viveu sempre para si, sua família e para a Régua. É como quem diz, ele pertenceu a quase todas as principais instituições sociais, culturais e desportivas da Régua. Devem ser mais, mas pelo menos esteve de corpo e alma na Santa Casa Misericórdia, Associação Humanitária dos Bombeiros, Clube Caça e Pesca do Alto-Douro, Casa do Benfica e o Sport Clube da Régua. Com uma paixão pela Régua, igual à sua, deve ser difícil encontra-se, cá no nosso meio, mais alguém.
O Senhor João Pereira, em tudo o que fez não precisou de ostentar superioridades para com o seu semelhante, fosse do que fosse, bastou-lhe ser que era: um homem simples, bom e justo. Temos razões, até para pensar e o dizer, que o senhor João Pereira deve ter o último e genuíno reguense.
Lembro-me da última vez que estive com o senhor João Pereira, já a doença o tinha enfraquecido, numa tarde, em Vila Real. Ao lado de um seu amigo, o Dr. José Alberto Marques, falou-me das coisas simples que o faziam sonhar e ter um sorriso permanente no rosto. Uma dela, era a sua vontade de voltar, logo que recuperasse, à Régua para estar com os seus amigos. Com tristeza para mim, não muito tempo depois, ele regressou para a Régua. Definitivamente... e pelo caminho último caminho da sua vida, aquele que o fez chegar à Eternidade.
Para os crentes, o senhor João estará certamente no céu – no inferno, ele nunca poderia estar, como nos disse o senhor Padre Luís! Eu acredito que ele esteja ainda entre nós com o seu exemplo de generosidade e cidadania.
Os homens como o senhor João Pereira nunca passam em vão na vida. Eternizam-se na memória do tempo como exemplo para as gerações vindouras. Se queremos mostrar uma fidelidade à sua memória, devemos saber manter vivos os seus valores e os seus generosos ideais.
(Clique nas imagens para ampliar)
Nos bombeiros da Régua, o seu nome será perpetuado com admiração, respeito e gratidão, nunca esquecendo o seu trabalho pela causa do voluntariado e do associativismo.
A terminar, como conselho, sugiro a quem de direito, que o seu nome devia ficar bem lembrado numa rua, gravado assim para todo o sempre: Rua de João Pereira – um reguense como nós. Para não dizer, melhor!
- Peso da Régua, Março de 2010, J. A. Almeida.
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