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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Homenagem póstuma a um coreto desprezado



MATARAM A TUNA
Nos Domingos antigos do bibe e pião 
saía a Tuna do Zé Jacinto
tangendo violas e bandolins
tocando a marcha Almadanim.


Abriam janelas meninas sorrindo
parava o comércio pelas portas
e os campaniços de vir à vila
tolhendo os passos escutando em grupo.
Moços da rua tinham pé leve.
o burro da nora da Quinta Nova
espetava orelhas apreensivo
Manuel da Água punha gravata!
Tudo mexia como acordado
ao som da marcha Almadanim
cantando a marcha Almadanim.


Quem não sabia aquilo de cor?
A gente cantava assobiava aquilo de cor...
(só a Marianita se enganava 
ai só a Marianita se enganava
e eu matava-me a ensinar...)
que eu sabia de cor
inteirinha de cor
e para mim domingo não era domingo
era a marcha Almadanim!


Entanto as senhoras não gostavam
faziam troça dizendo coisas
e os senhores também não gostavam
faziam má cara para a Tuna:
- que era indecente aquela marcha
parecia até coisa de doidos:
não era música era raiva
aquela marcha Almadanim.


Mas Zé Jacinto não desistia.
Vinha domingo e a Tuna na rua
enchendo a rua enchendo as casas.
Voavam fitas coloridas
raspavam notas violentas
rasgava a Tuna o quebranto da vila
tangendo nas violas e bandolins
a heróica marcha Almadanim!


Meus companheiros antigos do bibe e pião
agora empregados no comércio
desenrolando fazenda medindo chita
agora sentados
dobrados nas secretarias do comércio.
cabeças pendidas jovens-velhinhos
escrevendo no Deve e Haver somando somando
na vila quieta
sem vida
sem nada
mais que o sossego das falas brandas...
- onde estão os domingos amarelos verdes azuis encarnados
vibrantes tangidos bandolins fitas violas gritos
da heróica marcha Almadanim?!


Ó meus amigos desgraçados
se a vida é curta e a morte infinita
despertemos e vamos
eia!
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era a Tuna do Zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim!
- In Manuel da Fonseca* (Wikipédia)

Sobre os coretos
Lugares de referência da aldeia ou da cidade, situados no adro da igreja, no jardim público no centro da praça principal, os coretos foram um espaço notável de descentralização e democratização cultural, não só em Portugal como na Europa. Os ideais de igualdade da revolução francesa fizeram eco e a cultura saiu de casa, dos teatros e dos meios intelectuais para vir para a rua, para o meio do povo. Ali, onde o analfabetismo reinava, ouviam-se as bandas filarmónicas, cultivando-se, assim, o gosto pela música e mais tarde pelo teatro. 
Foram, mais tarde, palcos de manifestações políticas e sociais e alguns foram testemunhos de mais de um século de história da cultura portuguesa, assistiram à queda da monarquia e à instalação da república, à primeira e à 2ª guerras mundiais, à passagem da ditadura salazarista a novos dias de liberdade.
Testemunharam também estórias com rosto, relatos de sofrimento, de luta, mas também de esperança, de liberdade e amor. Viram crescer e (alguns) envelheceram sem morrer.
- IT / Coretos - Lugar de Memórias



*MANUEL da FONSECA (1911-1993) 
Um dos principais autores do Neo – Realismo português. Em Lisboa se radicara desde a época dos estudos secundários, depois dos quais frequentou, por algum tempo, a Escola de Belas – Artes.
Destacou-se como poeta, contista e romancista. Publicou Rosa dos Ventos ( poesia, 1940), Planície ( poesia, 1941, na colecção Novo Cancioneiro, de Coimbra), Aldeia Nova (contos, 1942), Cerro – Maior (romance, 1943), O Fogo e as Cinzas (contos, 1951), Seara de Vento (romance, 1958), Poemas Completos (1958), Um Anjo no Trapézio (contos,1968), Templo de Solidão (contos, 1973), além de um volume de crónicas ( Crónicas Algarvias, 1986) e de uma Antologia de Fialho d´Almeida (1984). Reelaborou alguns de seus textos mais de uma vez, dando-lhes forma definitiva para a Obra Completa.
Exceptuando-se os dois últimos livros e contos, de ambiência lisboeta, trata-se de uma obra profundamente marcada pelo espaço físico e humano do Alentejo (…)
Em íntima relação com sua produção literária, Manuel da Fonseca desenvolveu uma intensa militância social, política e cultural, tendo chegado a ser preso em 1965, por ter integrado o júri que premiou Luanda, de José Luandino Vieira (…)
- In: Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua portuguesa – 1995

Clique nas imagens para ampliar. Sugestão de poesia de JASA.  Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Junho de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Coreto da Régua e o meu primeiro amor

(Clique na imagem para ampliar)

Um velho postal dos correios... que serviu a alguém, por certo a uma turista acidental na então vila da Régua, num quente dia de verão de Agosto, para dar noticias à família ou a uma amiga do coração e lhes mostrar uma pérola preciosa do lugar onde tinha passado, neste nosso bonito coreto que se encontrava escondido no meio de árvores de um espectacular jardim.

Um postal que nos trouxe recordações dos quinze anos, quando nessa altura escutavamos as marchas das bandas de música, nos dias que antecediam as grandiosos festas de N. Senhora do Socorro.

O velho coreto.... perdeu-se na nossa memória. Como se perdeu ali nos bancos de madeira verde daquele jardim, o nosso primeiro amor de adolescentes, a ternura das emoções, as promessas eternas e a emoção dos beijos que ali roubamos à rapariga dos nossos sonhos, debaixo da sombra dos grande plátanos e com o cheiro das hortênsias e a frescura da água que caía na taça.

Como este nosso velho amor, que nem o nome lembro, o coreto fez parte de um momento das nossas vivas...

Que raio de saudades tenho desse tempo em que o coreto era parte da nossa cidade. E do meu amor...!

Tenho a certeza absoluta que, um dia, os encontrarei num novo jardim... Alexandre Herculano!

- Peso da Régua, Setembro de 2009 :: Por J. A. Almeida para "Escritos do Douro".

(Clique na imagem para ampliar)