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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Recortes da net - Histórico Teatrinho da Régua reabre as portas no verão


Lusa - In RTPNotícias - 11 Abr, 2013, 17:22

O presidente do município, Nuno Gonçalves, referiu que a obra deverá estar concluída até ao final de maio e que o espaço poderá estar em pleno funcionamento no verão deste ano, depois da instalação do equipamento e de definida a forma de gestão.

Construído em 1912, o Teatrinho chegou a receber grandes espetáculos de ópera, mas ao longo dos anos foi-se degradando.

A ideia agora é devolver à população da Régua o edifício classificado como de interesse público.

Nesta reconstrução procedeu-se a uma ampliação do espaço, mantendo os elementos históricos como os dois balcões e o gradeamento.

Pretende-se que o edifício seja polifacetado e tenha condições para receber concertos, peças de teatro, exposições ou até mesmo congressos ou apresentações de livros.

Este espaço é propriedade do IVDP mas o direito de usufruto foi entregue ao MD.

Para o presidente do instituto público, Manuel Cabral, esta intervenção é um bom exemplo do diálogo e do braço dado entre as instituições.

"Um dos problemas do Douro é haver alguma debilidade institucional e, pior do que isso, é a falta de diálogo entre as instituições que estão pouco habituadas a trabalhar em conjunto", salientou.

Agora, falta definir a forma de funcionamento. "É algo que estamos a trabalhar em conjunto, para encontrar um modelo que seja sustentado e sustentável e que permita rentabilizar este espaço em termos culturais", acrescentou.

Elisa Babo, presidente do conselho de administração da Fundação do Museu do Douro, referiu que o espaço "é um desafio para enriquecer a oferta cultural e o papel cultural da fundação na região".

Esta obra insere-se "Frente Douro", um projeto do município que quer melhorar a relação da cidade com o rio e atrair investimento.

O custo do "Frente Douro" já ultrapassa os 13 milhões de euros, conta com o apoio do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) e junta vários parceiros públicos e privados.

No âmbito deste projeto está ainda em curso a a reabilitação do cais de madeira da estação, bem como a criação da ecopista do Douro, que se estenderá ao longo de mil metros, junto ao rio, e a reabilitação dos espaços verdes ribeirinhos.

No âmbito do programa de regeneração urbana já está concluído o espaço multiusos (parque de estacionamento e local da feira semanal), bem como a reabilitação da ponte metálica e do cais fluvial.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

De volta ao Milagre do Cruzeiro

Estou de volta ao Milagre do Cruzeiro a pedido de alguém que gostaria de conhecer o essencial da história contada na opereta, em episódios tão românticos como realistas. No dia da estreia foi distribuído um livrinho-programa onde constava um resumo dessa história e que agora transcrevo, com um outro acrescento da minha lavra.

Diz assim esse resumo: “Era uma vez uma menina chamada Joaninha que, por ser órfã, foi recolhida e amparada pela sua madrinha, a Srª Morgada. Vivendo no aconchego de tão santo lar, a Joaninha não podia deixar de revelar as excelsas qualidades da sua madrinha, se bem que ela possuísse um coração terno e afável, nunca indiferente à miséria e dor alheias, daí resultando a estima de toda a gente, principalmente os pobres que ela socorria.

Certo dia, por motivo de um casual encontro com Fernando - mestre-escola – sentiu dentro de si a chama do amor.

Alvaro, filho do fidalgo dos Cabris, moço galanteador de quem as raparigas da aldeia fugiam, por se dizer de boca em boca, ser autor de certos males, lembrou-se de dirigir olhares pecaminosos e palavras intencionais à bondosa Joaninha, perseguindo-a durante as suas visitas de devoção ao alto do Cruzeiro.

O maldoso João ferreiro soube disso e estaria pronto a ajudar o fidalgo nos seus torvos intentos.

Inesperada tragédia atinge em cheio Fernando e despedaça o coração de Joaninha. É que um tiro, também inesperado, atingiu e matou o fidalgo, ele que momentos antes tinha trocado umas palavras azedas com Fernando.

Joaninha, como louca foge de casa e dirige-se ao Cristo do Cruzeiro e implora-lhe a morte como único alívio para a sua dor, para o seu coração desfeito! Tomba inanimada e o bom Deus manda os anjos levantar o seu corpo débil e iluminar-lhe o caminho por onde, novamente, a felicidade viria.

Foi milagre!!!! E no fim daquele trágico dia brilhou a luz da verdade! Soaram as “Avé Marias”.

Este último quadro, tal com estas últimas palavras, fazem crer que o autor Rafael Magalhães, era um homem de devoção e de fé. De facto, era de uma religiosidade singular, intimista de todo e entendia que qualquer prece, qualquer diálogo com Deus, devia acontecer com muito respeito e total privacidade.
E é crível também que o autor da opereta, ao passar diariamente na rua Pedro Verdial, tenha encontrado ali uma fonte de inspiração, fosse no palavreado das mulheres do soalheiro, fosse nos janelões gradeados da velha cadeia onde os detidos, desirmanados do mundo e da razão, tinham olhos libertos e afoitos a todo o largo da concha reguense.

Já agora, traga-se aqui aos cenários, duas ou três personagens que ficaram para sempre na memória de quem as viu em cena. Pontificava a Teresa Chocalheira, serviçal da Sr.ª Morgada. Parecia o diabo à solta num mundo de milagres, mas não se servia de impropérios descabidos nem usava termos estapafúrdios. O seu fraseado eram só chalaças, sarcasmos e ironias, respostas na ponta da língua de mais a mais com assentimento e aprovação da patroa, a Sr.ª Morgada. Também o oficial de diligências, figura bem delineada e tão bem desempenhada pelo inconfundível Teixeirinha (lembram-se?). Diante da Teresa Chocalheira e diante das provas que incriminavam o assassino do fidalgo mostrava-se muito confuso, hesitante e inseguro, cheio de embaraços a fazer as suas partes gagas. Novelas, o regedor ou António, o perdido eram dois figurantes que nos diálogos e na postura se revelaram com muita desenvoltura tal como o João ferreiro, a disfarçar as sobras dos seus maus humores.

No final da opereta, final da história, surgiam duas figuras de anjos na beatitude milagrosa do cenário e um coro de vozes cantou uma Avé-Maria.

Diga-se, agora, que muita gente tem dito que “O Milagre do Cruzeiro” devia voltar à cena. Acho que não... Os tempos são outros e se mudou o mundo também mudaram as circunstâncias. Nos tempos que correm, tempos confusos e destemperados, o “milagre” não teria cabimento nem aceitação. Deixe-mo-lo no pó dos arquivos.

Enquanto isso, venho eu à boqueira do palco do velho Teatro dos Bombeiros da Régua dar vazão aos cenários do sentimentalismo.
Manuel Braz de Magalhães, Janeiro de 2013

Clique  nas imagens para ampliar. Sugestão do Dr. José Alfredo Almeida (JASA)  Também publicado no semanário regional "O Arrais", edição de 23 de Janeiro de 2013. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Janeiro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Milagre do Cruzeiro

Tenho diante de mim o livrinho - programa referente à estreia da opereta O Milagre do Cruzeiro, com letra e música de meu pai António Rafael Magalhães. Nele se diz que a opereta foi escrita em Abril de 1950 e apresentada ao público em 11 de Novembro do mesmo ano no quartel dos Bombeiros Voluntários da Régua.

Cinco anos antes tinha acabado a II guerra mundial e toda a gente vivia nas benquerenças da paz e duma permanente euforia. Por sugestão do Lourencinho, ao tempo comandante dos bombeiros e também a pedido de meia dúzia de componentes da Orquestra Reguense, meu pai lá se dispôs a escrever e a musicar uma opereta, coisa impensável nos seus horizontes artísticos. Mas, como quem se precata, começou a dar tento dos teatros do mundo que é como quem diz, o quotidiano do seu viver e das suas congeminações… Se nas horas forras do seu comércio de tabacos vinha até à porta da loja, a olhar a rua, o que é que via? Via o chamado Cimo da Régua com um polícia sinaleiro atento ao trânsito e via a novidade dos carros americanos, carros de bom tamanho e bons cromados sendo alguns conduzidos pelo novo-riquismo do volfrâmio. Nas costas do polícia era a sala de estar dos mirones e dos meninos bonitos, todos fazendo horas espreguiçadas e a olharem a tacanhez provinciana do mundo em derredor… E o Rafael Magalhães a dar conta do cenário.
No regresso à casa de Remostias passava junto da cadeia da vila, com seus janelões gradeados e onde se corporizava a responsabilidade de crimes maiores ou menores, sabe-se lá se alguma virtude escondida num corpo injustiçado. As celas escuras e soturnas recebiam uma esmola de luz e aconchego pela tardinha, à hora do sol poente. Seria tudo isto mais um capítulo, um novo cenário dos teatros do mundo? Seria, seria…

Um pouco mais adiante, num encruzamento de caminhos, era o bom dia ou a boa tarde das mulheres do soalheiro, isto se o tempo estivesse de feição e com boa temperança. Meu pai, Rafael Magalhães, respondia à saudação e reparava que elas se catavam umas às outras e espiolhavam o norte e o desnorte de vidas alheias… Se uma fazia meia, outra remendava o cu das calças do seu homem. Mas, todas elas integradas num resumo dos teatros do mundo e meu pai a congeminar até que chegava ao lugar das Fontainhas.

A partir daí não havia casas nem casebres nem sequer um arremedo de comparsas ou figurantes. A estrada de terra batida, ladeada de vinhedos, era chão afeiçoado a um cigarrinho de enrolar e às sementes que iam vicejando no ramalhete de uma história já pensada e já delineada. Disse-me um dia meu pai… Disse-me que as linhas e entrelinhas do enredo se revelavam no caminho das Fontainhas a Remostias, entre vinhedos, numa íntima comunhão com a natureza, como se aquele caminho fosse uma fonte de inspiração.
Chegado a casa, isolava-se na sala grande, sala propícia à leitura, à escrita e à música. Era ali o salão nobre das suas ideias, da sua criatividade e até das impressões que dia-a-dia se iam polarizando no seu cérebro. Havia ali um piano, uma flauta, um violino e um bandolim de quatro cordas. Dedilhava o bandolim e de pronto lançava no papel de música as notas compassadas e dançantes de um bailarico ou os acordes dulcificados de uma Avé Maria, tudo isso destinado ao canto e aos descantes da opereta. O enredo, esse tinha o romantismo tradicional, de mãos dadas com o realismo da época.
Os ensaios eram sucessivos e não se faziam à sobreposse. Faziam-se num ambiente de festa com a juventude e o entusiasmo de todos os figurantes.

A história do Milagre do Cruzeiro foi no dia 18 de Novembro,  no ano santo de 1950 e no quartel dos bombeiros onde se improvisou um palco e uma plateia num salão ainda inacabado. Foi ali que se assistiu ao êxito e ao sucesso de uma opereta que por onze vezes seria representada.

Se meu pai ressurgisse por aí, estou certo de que gostaria de ler e relembrar este memorial e até me dava a sua bênção. Mas isso, só por milagre dos milagres.
-  Manuel Braz de Magalhães, 24-11-12

Clique  nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Também publicado no jornal regional semanário 'O ARRAIS', edição de 12 de Dezembro de 2012. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.