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domingo, 20 de julho de 2014

Ao adormecer a saudade...

Como é facil ser difícil. Basta ficar longe do outros e, desta maneira, não vamos sofrer nunca.

Não vamos correr riscos do amor, das decepções, dos sonhos frustrados.

Como é facil, ser difícil. Não precisamos nos preocupar com telefonemas que precisam ser dados, com pessoas que pedem nossa ajuda, com a caridade que é necessário fazer.

Como é fácil ser difícil. Basta fingir que estamos numa torre de marfim, que jamais derramamos uma lagrima.

Basta passar o fim de nossa existencia representando um papel.

Como é facil ser dificil. Basta abrir mão do que existe de melhor na vida.
- Paulo Coelho
"""...e neste altar Torga é o grande anfitrião!"""
(Alberto Meireles Graça)
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A minha RÉGUA - 78

OUTONO
Fotos que reflectem um estado de alma sobre a cidade
 
Se participa da rede social 'FaceBook', poderá apreciar a colectânea de imagens 'A Minha Réguanos álbuns 'Peso da Régua' e 'Peso da Régua 2', com mais de 2.000 fotos.

Clique  nas imagens para ampliar. Imagens de autoria do Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sábado, 26 de outubro de 2013

A minha RÉGUA ! - 77

OUTONO
Fotos que reflectem um estado de alma sobre a nossa cidade
Se participa da rede social 'FaceBook', poderá apreciar a coletânea de imagens 'A Minha Réguanos álbuns 'Peso da Régua' e 'Peso da Régua 2', com mais de 1.500 fotos.

Clique  nas imagens para ampliar. Imagens de autoria do Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ainda no monte do Maio

No último artiguinho aqui publicado falei no monte do Maio e falei de tudo quanto a vista pode alcançar dali, daquele lugar altaneiro, um belo miradouro debruçado sobre o casario do Peso, sobre o vale de Jugueiros e toda a montanha de Loureiro com a ossatura bronzeada do Marão a servir de pano de fundo, na distância dos cenários.

Eu, amigo, de todos os horizontes e todas as lonjuras, tinha por costume subir até lá cima, ao monte do Maio. Isto nos tempos da minha juventude, como se quisesse deixar por ali as marcas do meu território e refazer o mundo das minhas aventurosas descobertas.

Adiante… Já me perguntaram se é fácil subir ao monte do Maio. Mas, vamos voltar lá, em busca dos longes revelados e a matar alguns velhos saudosismos.

Digamos, desde já, que o monte do Maio não tem acesso por estrada pública e só uns caminhos de consortes e umas escadinhas da meia-encosta lhe vão dando a necessária serventia. Digamos ainda que o monte do Maio não é altaneiro em demasia. Visto em altitude, é um arremedo de monte. Mas é um prodígio de vistas panorâmicas.

Tanto eu como meus irmãos, além doutras ocasionais fraternidades, tínhamos ali, mesmo no ciminho, o símbolo de todas as aventuras e que era um marco geodésico sempre caiadinho de branco e a que chamávamos o Pinoco.

Por esse tempo dizíamos que o Pinoco mirava outros Pinocos lá por longe, de monte em monte e que serviam para uma conveniente medição da terra. Também ouvíamos dizer que era por via da tropa e de uma qualquer estratégia militar.

Dito isto, vamos ali, a deslado do Pinoco, ver a casa do Bernardo Perdigão. Ele e a mulher a Engrácia, não têm filhos e vivem naquele meio desterro, afeiçoados a uma casa que não tem água nem tem luz. Mas é uma casa ainda altaneira, debruçada sobre o vale do Fontão e Remostias, ainda os baixios das Fontainhas com a sua antiga Capela das Sete Esquinas.

Em volta da casa do Bernardo tem o governo de duas ou três pipas de vinho, algumas árvores fruteiras e uma pequena horta de couve galega e outros renovos. Em tempo de chuva aproveitava as escorrências do telhado, para encher um pequeno tanque e os barris de sulfato.

O Bernardo é um homem de pequena estatura, muito pitoresco e todas bonomias. Gosta de nos receber e gosta de nos mostrar esta ou aquela curiosidade. A casa, soalheira por fora e um tanto enoitecida por dentro, é sobre o comprido, sem janelas e só uma telha de vidro em meio de telha vã dá alguma lumieira à espacidão da saleta comum. A cama de ferro, lá no fundo, está mergulhada numa quase penumbra e nem sei se é cama de bons-dias ou boas-noites. Avulta, na parede, um Cristo crucificado já enegrecido pela fumaceira do tempo mas donde parece irradiar um misto de luz e santidade num rosto descaído. Há ainda uma gaiola sem pássaro e há, no caibramento do tecto, um extenso dossel de teias de aranhas que, no dizer do Bernardo, é um bom sumidoiro de varejas, moscas, moscardos e mosquitos, a bem do aranhão.

Na mesa de comer está um lampião de faces vidradas, um candeeiro de petróleo, um jarrinha com flores de papel e um exemplar do Seringador que é uma distracção das escassas letras do Bernardo, ele que vai sabendo novas do calendário, a época das sementeiras, a sazão dos frutos e, por acréscimo, alguns anexins, de par com umas saborosas anedotas.

Nas meias tintas da casa do Bernardo ainda se divisa um gato preto retinto, de olhos bem avivados de amarelo, a andar por ali por cantos e recantos, numa postura felina e sorrateira como que a querer escorraçar o diabo.

Do mais, o que se vê são os trastes domésticos, panelas e alguidares, canecas e pratos ladeiros, malgas e pequenas travessas, com o caneco da água de cozinhar e beber pousado numa banqueta.

A mulher do Bernardo, a Engrácia, é uma mulher lideira, alta, bem encorpada, sempre vestida de preto e dizem que dada a feitiçarias e bruxedos. Tirante uma ferradura pregada no tabuame da porta, nunca vi por ali amuletos nem registo de lengalengas ou ladainhas distorcidas. Mas o Bernardo, meão de estatura, esse é dado à violência doméstica e quantas vezes vem lá de cima, pela tardinha, uma desenfreada gritaria da Engrácia.

Mas, no dia seguinte, a Engrácia vem à fonte encher um caneco de água e não se dá conta de que tenha quaisquer pisaduras, nem a cabeça escaqueirada nem sequer duas costelas metidas dentro. Como se a violência doméstica do Bernardo fosse uma violência bem domesticada. E a Engrácia lá vai, a subir os caminhos do monte, de caneco à cabeça e a falar sozinha, como que a castigar o cansaço.

Eu cá me fico, em descanso e a dialogar com a memória de outros tempos.
- Por Manuel Braz Magalhães, Abril de 2013. (conclusão em breve)

Clique na imagem para ampliar. Texto e imagem cedidos por Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. Também publicado no jornal semanário regional "O ARRAIS" edição de 17 de Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Reencontro com o monte do Maio

A despeito de uma aposentação tão descuidada como preenchida, volta e meia deixo esta minha pousada de Lamego e vou por aí abaixo até à casa de Remostias. É como se quisesse deitar contas a esta vida transitória, saber ainda das raízes e das seivas elaboradas, de par com outras ideias e outras intenções.

De caminho, é meu costume passar ao lado da Régua-cidade e subir pela variante do Corgo. Meto depois pelas acanhadas ruas do Peso e são elas quem me dá os bons-dias ou as boas-tardes, em jeitos de saudação. Isto se não enfio pelas estreitas e esquinudas ruelas de S. Pedro ou S. João.

Mas, por desfastio ou por obrigação, entrei há dias pelo centro da cidade e quem me saudou foi a Avenida Antão de Carvalho que vi toda entaipada ao longo do passeio e à medida da velha Alameda Municipal.

Disseram-me que ai, na Alameda, se vai construir um centro cultural, ou coisa que o valha. O entaipamento, só por si, acabou por me tolher uma lonjura de cenários mas, vá lá, que será por pouco tempo.

Não sei se a propósito ou a despropósito, quando cheguei à minha casa de Remostias acabei por recuar no tempo, uns poucos de anos e mergulhei numa espécie de nostálgica moleza. Foram essas as minhas ideias e as minhas intenções.

Ao recuar no tempo, feito menino e moço, subi ao monte do Maio, mesmo ao ciminho do monte, ali onde está e permanece um respeitável marco geodésico. O que queria era sondar os horizontes, se assim se pode dizer, e queria sondá-los com olhos límpidos e vivaços, tal como era nos verdes anos da minha mocidade.

Tenho agora diante de mim, um desdobre de belos horizontes. Vistos assim, de frente e a céu aberto, o que vejo eu? Vejo toda a montanha de Loureiro, toda a incisura dos relevos que vai das soalheiras terras de Fontelas ao termo de Medrões e Sanhoane. O miradoiro de S.to António, no cocuruto, manda-me de lá um aceno convivente, talvez retorno de igual encantamento. No fundo, de lado a lado do sopé, é todo o enfiamento da estrada do Rodo, estrada de macadame a levantar grande poeirada à passagem de automóveis e camionetas, e ainda com uma constante chiadeira de um ou outro carro de bois.

Mas é a montanha que me desperta a vivacidade dos olhos deslumbrados. Do casario mais ou menos disperso, mais ou menos aconchegado, pode subir um fuminho das cozinhas, alguns quintalinhos serão de bom fruto e bom amanho, da vinha socalcada partem caminhos de serventia ou de consortes. Avulta, lá no alto, algum bosquedo de castanheiros e pinhal.

Se o vento vem do sul, vento de feição, ouço o palavreado rumorejante que vem lá dos rechãos de Godim e até oiço o silvo do comboio pouca-terra, a despedir-se do apeadeiro do Moledo.

Mas diz-me o sino da Igreja Matriz que são horas de despegar desta espécie de memorial, como que um regresso aos verdes anos da mocidade.
- Por Manuel Braz Magalhães, Abril de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Texto e imagem cedidos por Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Recortes - Museu do Douro inaugura exposição de retratos antigos

Régua - O Museu do Douro (MD) inaugura sexta-feira, na Régua, uma exposição de 13 retratos, que estavam degradados e esquecidos numa cave, numa altura em que vive numa situação difícil devido à indefinição quanto à extinção.

O Governo anunciou em Setembro a intenção de extinguir a Fundação Museu do Douro. Entretanto na região, a expectativa é que a fundação não seja efectivamente extinta, mas, enquanto não for conhecida a decisão final, mantém-se a ansiedade.

“Estamos à espera e estamos um pouco sufocados. O grande problema é que a lei não nos autoriza a receber dotações dos municípios ou do Governo”, afirmou hoje à agência Lusa o director do MD, Fernando Seara.

O responsável referiu que a unidade museológica está, neste momento, “bloqueada em termos financeiros”.

“Porque o Orçamento do Estado, assim como a lei do projecto de extinção do museu tem um artigo que inibe as autarquias, nossas fundadoras, de cumprirem com a dotação”, acrescentou.

Foi com recurso aos meios próprios do MD que foi organizada a exposição ‘Santa Casa da Misericórdia – Colecção de Retratos’, que é inaugurada sexta-feira, na sede da unidade museológica.

Os 13 quadros retractam figuras, desde o rei D. Luís I, D. Antónia Adelaide Ferreira a pessoas desconhecidas, que foram beneméritas e contribuíram para a construção e manutenção do Hospital D. Luíz I.

“Retratá-las foi também uma forma de as homenagear como benfeitoras do hospital”, explicou Fernando Seara.

As obras de arte ficaram como que esquecidos na cave das antigas instalações da Santa Casa da Misericórdia da Régua. Mais tarde foram encontradas já em estado de degradação e algumas até com rasgões profundos.

O MD e a Misericórdia juntaram-se para preservar este património, num trabalho de restauro e de investigação que durou um ano.

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Também na sexta-feira é inaugurada a exposição de 100 fotografias ‘O Douro de Georges Dussaud’, um fotógrafo francês que retratou a região duriense dos anos 80.

A mostra já esteve em Lamego, mas agora, na Régua, tem como novidade mais fotografias que o autor tirou, já em 2012 e nos mesmos locais, mas 30 anos depois.

A partir de sexta-feira é também possível ver de novo a exposição temporária “Imagens do vinho do Porto: Rótulos e Cartazes” e que alerta para a importância da embalagem, marca e cartaz do vinho do Porto,

Outra novidade é a inauguração de um marco dos Correios, dos tradicionais vermelhos, dentro das instalações do MD, uma iniciativa que pretende incentivar a tradição e que o director considera que estava a cair em esquecimento, de mandar um postal.
- Recorte da net - In "Noticias ao Minuto"

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique nas imagens para ampliar. Imagens de José Almeida e Miguel Guedes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edições de 7 e 14 de Novembro de 2012 respectivamente. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique nas imagens para ampliar. Imagens de José Almeida e Miguel Guedes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edições de 25 e 31 de Outubro de 2012 respectivamente. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique nas imagens para ampliar. Imagens de José Almeida e Miguel Guedes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edições de 10 e 18 de Outubro de 2012 respectivamente. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique na imagem para ampliar. Imagem de José Almeida e Miguel Guedes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edição de 26 de Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Relendo: Em tempo de Festas de Nossa Senhora do Socorro recordo Jaime Ferraz Rodrigues Gabão

Crónica sobre duas pessoas que marcaram nossas vidas. Lembrando-os sentimos que estão (e estarão) sempre presentes!

Em Memória de Jaime Ferraz Gabão - Por M. Nogueira Borges – Publicado no boletim de Festas de Nossa Senhora do Socorro – Peso da Régua - 1994. (Atualização)

Conheci-o em Porto Amélia. O meu destacamento, sediado em Quelimane, viera substituir uns "cocuanes"* que estavam de regresso à Metrópole. Para trás deixava a luxúria dos palmares de Penabe, o esmagamento das infindáveis plantações de chá do Gurué, o silêncio e os ruídos da selva esplendorosa de Mocubela ou Maganja da Costa, a confraternização da boa gente da capital da Zambézia.


Foi em Março de 1968. Em Lisboa, Salazar ainda não agonizava, e Marcelo Caetano repartia o seu tempo entre a Faculdade de Direito, a reescrita do seu Manual de Direito Administrativo e o seu escritório de jurisconsulto ali para os lados da Rua do Ouro, mal sonhando que, em finais desse ano, ocuparia S. Bento para assistir, num desterro brasileiro, ao funeral do Império. Em Lourenço Marques, a Polana estava cheia de sul-africanos e os ecos do Norte mal chegavam às esplanadas.


O Jaime Ferraz Gabão era, a par da sua actividade profissional numa empresa algodeira, o correspondente, para o distrito de Cabo Delgado, do mais prestigiado jornal Moçambicano - o Diário de Moçambique** - e criava, semanalmente, uma página regional onde dava oportunidade a jovens colaboradores. Uniu-nos a paixão pêlos jornais. Essa afinidade gerou entre nós uma profunda estima e, com o tempo, à medida que nos íamos conhecendo, uma amizade tão grande que, ainda hoje, à distância de vinte e seis anos, nem sei como definir.


O Jaime era uma alma generosa e não queria morrer com remorsos nem deixá-los aos vivos. Abandonara a Régua quando os seus sonhos se desfizeram e a realidade que os seus olhos contemplavam era tão crua que não hesitou quando um velho amigo o convidou para abalar até às paragens do indico.


Feito, posteriormente, o reencontro com a Mulher que sempre o acompanhou até ao fim dos seus dias, o meu saudoso amigo ganhou a paz a que todo o ser humano tem direito quando se está de bem com Deus e os seus semelhantes.


África dera-lhe a razão da vida e a justificação para a partilhar. Sob o tecto africano, nos dias abrasadores ou nas noites do cacimbo, o Jaime consumia e retemperava as energias de um homem que, no nosso Douro, herdara o amor do trabalho honrado. Nunca foi patrão nem capataz, nunca ostentou ou humilhou, nunca cortejou poderosos nem desprezou deserdados, nunca separou brancos de um lado e pretos do outro. Amou a África porque a África - caros leitores - é encantamento deslumbrante, um chamamento emocional que arrebata, uma sedução tão arrepiante que não há palavras para a descrever, só sentindo-a, calcorríando as picadas inóspitas e engolindo o seu pó, bebendo água do coco ou dos pântanos solitários, aganando sob o fogo do seu sol ou tremendo nas suas madrugadas de névoa.


Eu entrava em casa do Jaime Ferraz Gabão sem bater à porta, sentava-me à sua mesa sem perguntar onde era o meu lugar, conversávamos horas sem fim no deleite do entardecer, íamos e vínhamos pelas ruas e cafés de Porto Amélia com a naturalidade de quem vivia o tempo todo na fruição plena da fraternidade e as areias da praia de Wimbe já conheciam os nossos pés nas manhãs de Domingo.


Findo o meu tempo de serviço militar regressei à minha aldeia e o Jaime por lá ficou. Ainda recordo, comovido, as nossas lágrimas de despedida.


Um dia, nas sequelas da tal exemplar descolonizaçâo, ele voltou, também, às suas origens. Foi um trauma de que nunca se curou. Aquilo foi como uma traição que, na sua boa fé, não contava; um murro medonho na esquina da sua vida, na pureza da sua certeza patriótica. Desgastado e amargurado, vendo, mais uma vez, o seu ideal a fugir-lhe, mastigou em seco muitas desilusões e incompreensões. Pertencia àquele tipo de homens que não tem pele de elefante porque cultivava a franqueza e a capacidade de perdão. Custava-lhe a ruindade à sua volta, os anátemas dos retornados, a indiferença por uma terra e por uma causa que interiorizara tão profundamente que alturas tinha em que já não sabia se as raízes eram mais fortes - ou mais fracas - do que as saudades dolorosas dos batuques, do cheiro das queimadas, dos dias em mangas de camisa, da leveza das brisas da baía de Pemba, do carregado das trovoadas no mato, do odor a catinga ou dos gritos da hiena sem companhia.


O jornalismo enganou-lhe as recordações, sublimando-as em descrições sempre apaixonadas mas nunca desonestas. Sabia que um jornal, fosse qual fosse o seu dono, não era um palco de propaganda, nem um púlpito de ressabiados pessoalismos, nem um ócio de frustrados a envenenarem relações, nem um palanque onde os vencidos políticos ruminassem vinganças. Praticou um jornalismo de transparência porque não ocultava o relevante e, quando assumia a opinião, não ofendia sentimentos nem provocava a consciência alheia. Tinha a educação herdada do berço e cultivada no pragmatismo do quotidiano. Escreveu muitas páginas de memórias das terras e das gentes por onde andou e viveu sem verbalismos ou maniqueísmos. Viveu o dilema dos que, conhecedores dos largos espaços, se ressentem, sofrídamente, das estreitezas dos horizontes, onde, afinal, a poesia da alma se reflecte no limite dos muros da indiferença das coisas e das pessoas. Sem sabedorias arcádicas ou carreiras/academistas, mas possuidor de um entusiástico autodidactismo. O Jaime Ferraz Gabão transformava a simplicidade escondida na mais bela descoberta. Homem solidário, condoía-se de um pé descalço e não dominava as revoltas do seu sangue. Se é preferível a responsabilidade dos gestos que não praticamos porque outros nos impedem aos que não fazemos porque a eles nos recusamos, o Jaime culpava-se de todas as injustiças do dia a dia da vida. Era um espírito em permanente responsabilização e nunca contente de ver realizar-se o que se deve. Se aqui recordo o Jaime Ferraz Gabão neste livrinho das Festas em Honra de Nossa Senhora do Socorro, onde ele sempre colaborava com alegria, não é só para que conste, mas também para implorar à nossa Padroeira que, não se esquecendo de todos nós - os vivos - não olvide o meu querido e saudoso Amigo que, na Fé, viveu sempre, mesmo quando a morte já lhe rondava os passos.

- Por M. Nogueira Borges – Boletim das Festas de Nossa Senhora do Socorro de 1994 (“recorte” cedido gentilmente por J A Almeida).

* - "cocuanes" termo adaptado do idioma macua e que quer dizer velho(os), no caso: "...viera substituir uns militares mais antigos".
**retifico - Jaime Ferraz Gabão era correspondente e distribuidor para Cabo Delgado do Diário de Lourenço Marques com sede em Lourenço Marques, atual Maputo. Embora colaborasse eventualmente com outros jornais moçambicanos e portugueses, o Diário de Moçambique estava sediado na cidade da Beira e, se a memória não me falha, seu correspondente para Cabo Delgado era o também saudoso Administrador Zuzarte.
  • Sobre M. Nogueira Borges;
  • Jaime Ferraz Rodrigues Gabão citado no portal do Sport Club da Régua - Aqui!
  • Cartal de Longe - Lembrando o cidadão e  o jornalista Jaime Ferraz Rodrigues Gabão - Aqui!
  • UM DE NÓS - Em Memória de Jaime Ferraz Gabão - Aqui!
  • Várias 'ligações'(post's) que comentam Jaime Ferraz Rodrigues Gabão - Aqui!
RECORDANDO... Por Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, a propósito das Festas de Nossa Senhora do Socorro

Em Memória de Jaime Ferraz Gabão - Por M. Nogueira Borges – Publicado no boletim de Festas de Nossa Senhora do Socorro – Peso da Régua - 1994.


Clique  nas imagens para ampliar. Imagem de M. Nogueira Borges de autoria de J. L. Gabão. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2012 e em homenagem a meu saudoso Pai JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO e ao estimado Amigo MANUEL COUTINHO NOGUEIRA BORGES. O texto de M. Nogueira Borges é cortesia do Dr. José Alfredo Almeida, também Amigo prezado destas personalidades da Régua e do Douro. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sábado, 9 de junho de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

A "ponte-velha" agora recuperada

Clique na imagem para ampliar. Imagem original também publicada no jornal semanário "O Arrais". Sugestão de JASA (José Alfredo Almeida) para este blogue. Fotografia atual de Miguel Guedes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Junho de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique na imagem para ampliar. Imagem original também publicada no jornal semanário "O Arrais". Sugestão de JASA (José Alfredo Almeida) para este blogue. Fotografia atual de Miguel Guedes. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Junho de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique na imagem para ampliar. Imagem original também publicada no jornal semanário "O Arrais". Sugestão de JASA (José Alfredo Almeida) para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Junho de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Recortes: Régua, antes... Régua, depois...

Clique na imagem para ampliar. Imagem original também publicada no jornal semanário "O Arrais". Sugestão de JASA (José Alfredo Almeida) para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Maio de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.