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quarta-feira, 27 de abril de 2011

O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA filmado na Régua

Um filme de Manoel de Oliveira realizado na cidade de Peso da Régua - Douro estreou hoje, 27 de Abril de 2011,  nos cinemas em Portugal.
O Estranho Caso de Angélica é o projeto mais recente do cineasta-centenário-portuguêsManoel de Oliveira. Numa noite chuvosa vemos um homem desesperado para encontrar um fotografo perto das três da manhã, o escolhido é Isaac um jovem judeu que acabara de chegar na cidade e que perambula por ela atrás de fotos de um cotidiano esquecido.
O roteiro dá corpo aos sentimentos de Isaac compondo imagens fantásticas com bom humor, ou seja, vertentes diferentes da sua usual filmografia. Todavia, para compensar essa leveza, o cineasta abusa de ambientes claustrofóbicos, monocromáticos, planos estáticos e semi-mortos, em especial na cena do funeral de Angélica.
Sim, a Angélica do título não está viva, longe disso, ela está morta e Isaac deve fotográfa-la para que a mãe da moça tem uma última recordação. Logo ao chegar na casa da falecida, o fotografo esbarra com a irmã devota que o julga ao ouvir seu nome judaico.
Isaac ignora o desconforto e se depara com algo, ou melhor, alguém que não pode ignorar: Angélica. A imagem captada por ele não sai de sua cabeça (ainda mais quando a fotografia sorri a ele) e é aí que a garota começa a participar do seu cotidiano, através de aparições – incluindo uma viagem pelos céus da cidade ao melhor estilo Mélies.
Contudo, é inevitável para Oliveira não intercalar essa viagem de Isaac com as conversas daqueles que convivem com ele. Evitando um discurso direto o entre “Revelar” (alusão ao Apocalipse) fotos, citações bíblicas (as trombetas dos anjos, interpretação de sinais, etc) e metafísica – a matéria e a anti-matéria (corpo e espírito) – evidenciado pela quebra da poesia da imagem quando a poluição sonora invade os devaneios de Isaac.
Suave e divertido, Manoel de Oliveira nos entrega um filme em homenagem a beleza eterna através de um exercício lúdico sobre  a morte, e – acima de tudo – poética. - In "Vida Ordinária"