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sexta-feira, 24 de maio de 2013

O HÁBITO E OS MONGES - O Edifício e os Bombeiros da Régua

(Imagem do "Escritos do Douro" publicada em SEGUNDA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2012 - 132º. aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua)

Nas minhas deslocações  profissionais e de lazer, tenho visitado – como a maioria dos leitores – diversas vilas e cidades. Para além de Tribunais, Museus, Igrejas, Câmaras, Hospitais etc., etc. são de notória utilidade pública os Quartéis dos Bombeiros.

Há quartéis e quartéis. Conhecem-se quartéis dos soldados da paz que têm o aspecto dum Armazém no rés-do-chão para aparcamento de viaturas e telecomunicações e dum exíguo 1º Andar para serviço administrativo, reuniões da direcção e salão nobre. Conhecem-se terras de iguais ou de maiores dimensões que a Régua mas não têm um Quartel igual ou semelhante. Não vou nomear nenhuma dessas terras por respeito à solidariedade, ao voluntariado e ao bem-fazer, apanágio a todos os bombeiros. Mas, é fácil ajuizar que há poucos Edifícios (dos Bombeiros) no nosso país, com o belo desenho e amplo espaço (cada vez menor no rés-do-chão) do Quartel Delfim Ferreira, na Av. Dr. Antão de Carvalho, na Régua. O Hábito (entenda-se por Edifício) com uma fachada principal granítica bem concebida e ornamentada, suficientemente iluminado e arejado por janelas com padieiras de cantaria, destaca-se na arquitectura da cidade.

Os Bombeiros reguenses e demais Equipa (os Monges) trabalham esforçadamente para servirem, o melhor possível, a Comunidade. Há tempos recebi do Dr. J. Alfredo Almeida uma fotografia histórica que documenta uma das fases da construção; por este meio, lha agradeço. Mas a riqueza e beleza do Edifício não se limitam ao exterior. São extensivas ao seu interior.

O rés-do-chão acolhe: central de comunicações, balneários, sanitários, 8 ambulâncias para doentes (5 de socorro e 3 de transporte), 5 viaturas de combate a incêndios (3 a fogos urbanos e duas a florestais), 2 barcos de socorro a náufragos com uma carrinha de mergulhadores, 1 carro de desencarceramento e ambulância do INEM.

No 1º andar ficam instalados a sala de reuniões da direcção, o salão nobre, a secretaria, gabinete e bar. Ainda aí fica o museu da Corporação denominado “Museu João de Araújo Correia” com uma exposição permanente dum acervo numeroso de peças: antiga bomba extintora braçal, motobombas, extintores, macas antigas, condecorações, prémios, prendas, fotografias, diplomas, bandeiras, estandartes, galhardetes, medalhas, a sineta de Canelas etc. etc. que despertam a curiosidade de visitantes, coleccionadores e são motivo de admiração doutras associações de bombeiros.
(Imagem do "Escritos do Douro" publicada em QUARTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO DE 2009 - O Quartel dos Bombeiros da Régua - Notas para a sua história)

No 2º andar situam-se a biblioteca, gabinetes, sala de reuniões e formação, e camaratas. Noutras ocasiões, o 2º Andar teve um dinamismo cultural apreciável. Antes da existência da Biblioteca Municipal, ele serviu de alimento espiritual à sociedade da Régua e arredores com o funcionamento activo da biblioteca. Houve um tempo de inactividade, mas tal não lhe retira o merecimento. Muito boa gente leu e estudou nesse Salão ou levou emprestados para casa: jornais, revistas e livros da Biblioteca cujo patrono é Maximiano Lemos. Apesar deste ilustre reguense ser um santo não conseguiu o milagre do regresso de almas fugitivas ao espaço que baptizou. Quanto aos “Monges” (Bombeiros, Comando e Direcção) que há para dizer? Que são donos da protecção civil nas seguintes áreas: saúde, incêndios e acidentes (nas vias e no rio) no perímetro do concelho do Peso da Régua. Nunca é demais lembrar a sua formação na emergência pré-hospitalar e a sua preparação no socorro dos doentes que transportam aos hospitais e centros de saúde. Nos incêndios florestais os Bombeiros respondem também aos apelos do Centro Distrital de Vila Real de Operações de Socorro (CDOS).

O corpo de Bombeiros da Régua, entre voluntários e profissionais, ronda os 80, sendo estes cerca de 20. Tenho conhecimento da atenção que dispensam ao cidadão comum prestando-lhes uma ajuda de cinco estrelas. Se “o hábito não faz o monge” como diz o ditado, neste caso o hábito faz parte do monge. A grandeza e a nobreza do Edifício (o Hábito) de uma Associação de Bombeiros das mais antiga do país (28-11-1880), têm sido bem interpretadas pelos Soldados da Paz, Comandante e Direcção (os Monges), pois, prestando, dedicadamente, os seus imprescindíveis serviços sabem honrar os pergaminhos da memória e da história do concelho do Peso da Régua.

O Hábito e os Monges constituem um riquíssimo tesouro a preservar.
Nota: Como se depreende da leitura, este artigo não trata da Edificação “Sala Museu – Bombeiros Voluntários – Peso da Régua”, sita em frente da sede da Junta de Freguesia da Régua.

- Peso da Régua, 19/5/2013, M. J. Martins de Freitas.


Clique  nas imagens para ampliar. Imagens e texto editados para este blogue. Sugestão de texto do Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Maio de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

sábado, 15 de setembro de 2012

A MISSÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS

Em data recente, perguntaram a um rapazinho de cinco anos:

- Queres ser bombeiro?

E ele respondeu:

- Não, isso não dá dinheiro.

Este curto diálogo e mais perguntas formuladas são o mote da minha reflexão. Quem falou com aquele rapazinho aproveitou para lhe ensinar o que incumbe aos pais e aos professores. Tentou explicar-lhe que o ser Bombeiro é uma honra e a maior dádiva dum cidadão ao seu semelhante. O petiz só muito mais tarde perceberá, na realidade, o voluntariado dos soldados da Paz. Só muito mais tarde compreenderá os propósitos do lema “Vida por Vida”. A tenra idade do garoto ditou outras perguntas numa linguagem simples:

- Sabes quem apaga os incêndios nas casas e nas matas?

- Sabes quem ajuda nos acidentes da estrada e conduz os sinistrados ao hospital?

- Sabes quem é chamado ao rio Douro para salvar as pessoas?

- Sabes quem leva os velhinhos e os doentes às transfusões de sangue?

A rapidez das questões embaciou o olhar da criança e tornou-a pálida. Ao fim das quatro ela já tremia como varas verdes!
A conversa teve de parar para não lhe causar incómodo. O interlocutor (o adulto que perguntava) ainda acrescentou:

- Um dia serás um jovem e depois um homem e hás-de perceber, o que significa para um Bombeiro, o valor da solidariedade, do voluntariado, da amizade, do amor aos outros e, por último, da oferta da própria vida!

O menino – que desconhecia, naturalmente, a profundidade destas últimas palavras – foi-se recompondo da palidez e das tremuras e o olhar foi-lhe restituído.

Este caso leva-me a crer que a sociedade actual se materializou definitivamente. E que o homem, assediado pela televisão e pelas novas tecnologias, vai ficando nu dos valores elementares.
A família tem o dever de educar a criança para os valores da entre-ajuda, da solidariedade, da disponibilidade e do amor ao próximo, entre muitos mais. A escola, como complemento da educação familiar, tem a tarefa de promover a prática desses valores. É conhecida a máxima latina: primum vivere, deinde philosophari (primeiro viver, depois filosofar). Obviamente que após acautelar o seu sustento, o homem deve procurar realizar o seu fim último na terra que é ser feliz. Ora, no dar e no dar-se aos seus iguais há, seguramente, muita felicidade.

- Peso da Régua, 23/8/2012, M. J. Martins de Freitas

Clique nas imagens para ampliar. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Também publicado no semanário regional "O ARRAIS" edição de 26 de Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.   

sexta-feira, 6 de julho de 2012

EVOCAÇÃO DE M. NOGUEIRA BORGES

Notícias do Douro - SECÇÃO: Opinião
Peso da Régua, 1/7/2012 
Por M. J. Martins de Freitas, Dr.


É com profunda tristeza que começo esta crónica. Faleceu, no dia 27/de Junho último, um amigo: M. Nogueira Borges. Ainda nesse dia me remetera uma mensagem via email! Nada fazia prever a sua morte! Conheço o Nogueira Borges desde 24/07/2011. Repesco a data na dedicatória que então me fez. Nesse dia, fui ao lançamento do seu livro “Lagar da Memória”, na Feira do Livro de Santa Marta de Penaguião, e ficou-me tão agradecido que logo procurou o meu endereço electrónico para me fazer chegar - como fez - um agradecimento.
De então para cá trocamos centenas de emails e foi fácil granjear uma amizade pelas afinidades éticas, sociais e humanas que havia entre nós. A nossa aproximação acabou assim por ser natural. Os emails que trocávamos eram cruzados, algumas vezes, por comentários diversos. Há cerca de um mês convidei-o para um almoço quando passasse na Régua, ao que ele concordou.
Infelizmente, não pude ouvir o que pretendia da sua rica experiência!
Tinha 68 anos e muito para dar ao próximo. Era homem mais do dar do que do ter. Foi um escritor, havendo temas recorrentes na sua escrita.
Afigura-se-me ser um saudosista: um reguense adoptivo e um duriense do Alto Douro morador nos arredores do Porto. Defendia a região do Douro com todas as forças da sua alma.
Como estudante de Direito em Coimbra ficou marcado pela boémia e pela academia da Lusa Atenas. Recordo que me mandava variações do fado de Coimbra, via email, que o fariam rejuvenescer e revelavam o seu carácter nostálgico e emotivo.
Ficou também marcado pela vida militar. Foi mobilizado para o Norte de Moçambique onde foi ajudado pelo reguense Jaime Ferraz Gabão e sua família, aí residentes. Até ao seu falecimento mantinha contactos frequentes com Jaime Luís Gabão, filho daquele, residente no Brasil.
Era deveras sensível às atenções que recebia. Era evidente, para quem o conhecia, que cultivava a flor da gratidão.
Apreciava, literariamente, João de Araújo Correia. Tinha, porém, amizade com o filho Camilo de Araújo Correia. A cada passo, Nogueira Borges parafraseava vocábulos e expressões usadas pelo Dr. Camilo.
Escreveu dois livros: “Não Matem a Esperança” e “Lagar da Memória”.
Foi ainda articulista e cronista em muitos jornais, entre eles, na nossa região: o Arrais e o Noticias do Douro.
Guardo do M. Nogueira Borges a ideia dum Homem emotivo, sensível, afectuoso e inquieto pelo bem do próximo. A memória de M. Nogueira Borges será recordada pelo bom exemplo dos seus actos e pelo ideário da sua escrita.


Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2012. Só permitida a cópia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.