segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Retalhos da net: Douro - Investigador alega descoberta do antepassado do vinho do Porto

O investigador Altino Moreira Cardoso defende, num estudo a publicar em Setembro, que a Casa dos Varais, foi «a primeira» a produzir «vinho cheirante de Lamego», no século XII, que posteriormente foi denominado vinho do Porto.

Transcrição de "Café Portugal" | sexta-feira, 10 de Agosto de 2012

A investigação, que parte da descoberta de uma escritura de compra datada de 1142 vai ser divulgada na revista «Douro - Estudos & Documentos», da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e será ainda objecto de uma publicação autónoma, em livro.

Natural de Peso da Régua, Altino Moreira Cardoso tem-se dedicado à história do Douro e da fundação de Portugal. Foi na Torre do Tombo que o investigador encontrou um documento das escrituras do Mosteiro de São João de Tarouca, entre a quais a da compra de uma herdade na foz do Varosa, outorgada pela Ordem de Cister. Esta será a primeira escritura relacionada com o sector da vinha na região.

A propriedade, localizada junto do rio Douro, no concelho de Lamego, pertence actualmente à família de João Azeredo.

Altino Moreira Cardoso defende que foi na Quinta dos Varais que os monges plantaram «os primeiros vinhedos do Douro», com «castas trazidas da Borgonha», de onde era proveniente a Ordem de Cister, bem como o seu mentor São Bernardo e o conde D. Henrique.

«Trata-se, portanto, da primeira quinta a produzir o medievalmente chamado vinho cheirante de Lamego, depois denominado do Porto, por daí ser exportado», avançou.

O responsável associa, por isso, o início da produção de vinho pelos monges de Cister neste território à época do início da nacionalidade, com o Rei D. Afonso Henriques.

Os vestígios da produção de vinho no Douro remontam à época da ocupação romana deste território, de que é exemplo a Fonte do Milho, em Canelas, que está a ser alvo de uma intervenção por parte da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN). 


No entanto, com a invasão muçulmana, a produção de vinho e as vinhas foram, segundo o investigador, praticamente abandonados, porque o Alcorão proibia a ingestão de bebidas alcoólicas.

Com a chegada da Ordem de Cister, os monges apressaram-se a plantar vinhas para produzirem o vinho de missa, o qual, de acordo com o investigador, «tinha uma técnica especial de fabrico» que considera ser parecida «com a técnica de produção de vinho do Porto».


Depois, com o aumento em massa da produção a Ordem de Cister terá começado a vender o vinho.

A descoberta desta escritura foi uma surpresa, mas enche de orgulho os proprietários da Quinta dos Varais. A propriedade está na família de João Azeredo pelo menos desde 1700, no entanto, muitos dos documentos históricos foram destruídos num incêndio, ocorrido em 1940.

É motivo de orgulho, mas é também um acréscimo de responsabilidade, já que este estudo vem chamar a atenção para a propriedade.

Com produção de vinho do Porto e DOC Douro, a Casa dos Varais está actualmente de portas abertas ao turismo rural e ao enoturismo.

Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Coimbra, Altino Moreira Cardoso já publicou diversas obras como «D. Afonso Henriques – Os mistérios e a lógica», «Afonso Henriques no Douro nascido e criado», ou Grande Cancioneiro do Alto Douro.
Clique nas imagens para ampliar. Imagens cedidos pelo Dr. Altino Moreira Cardoso (AMC). Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Setembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos. 

2 comentários:

Anónimo disse...

A escritura foi já estudada em Revista de Guimarães - Volume 85 - Página 24

JAIME disse...

Embora não permitamos usualmente comentários "anónimos" (alerta-se que qualquer comentário adicional deverá conter nominação), com a anuência do autor Altino M. Cardoso e para complemento esclarecedor aqui fica:

""" Esclarecimento:
O livro de Altino M. Cardoso intitulado A MAGNA CARTA DA HISTÓRIA DO VINHO DO PORTO - A ESCRITURA DE 1142 (Setembro de 2012) não pretende elaborar uma históra das granjas – o que A. Almeida Fernandes faz magistralmente nos números 85 (e também 86) da REVISTA DE GUIMARÃES citada.

O valor pioneiro atribuído à escritura de 1142 em nada está em contradição com quaisquer dos dados históricos expostos, aí ou em outra obra ou lugar.

Aliás, se a Revista não é citada, não deixam de o ser algumas obras de A Almeida Fernandes, incluindo o “Livro das Doações...” e, também o livro de Ruy Fernandes “DESCRIPÇÃO DE LAMEGO...”, (sobre Mosteirô, ou Mosteiros).

Sobre o assunto, o autor da “MAGNA CARTA...” remete ainda para uma listagem bibliográfica muito mais completa, publicada no seu livro recente D. AFONSO HENRIQUES – OS MISTÉRIOS E A LÓGICA (2011).

Em síntese:
- A MAGNA CARTA... explora uma focagem muito específica: marcar o início sistemático e intencional da compra – por Cister - de terrenos/ quintas/granjas, por ocasião da sua instalação em S. S. Tarouca, destinadas à produção e fabrico do “vinho de missa”, essencial aos vários actos litúrgicos eucarísticos diários.

Até à vinda dos frades de Cister não havia “vinho de missa” licoroso, é uma técnica de fabrico monacal exclusiva e nova, trazida da Borgonha - embora até aí as igrejas católicas usassem um vinho de consumo comum.

Esse “vinho de missa” monacal chamava-se “cheirante” ou “cheiroso”, porque era licoroso, sobretudo envelhecido, tendo uma graduação alcoólica de 16º.

Essa graduação aumentou para os 19-21º da norma do actual “vinho do Porto”, devido ao acrescentamento de mais aguardente vínica para exportação.

A exportação, monástica, para Inglaterra começou já no reinado de D. Dinis (por ex. no tratado de 1293 com o rei Eduardo I Plantageneta), a substituir os vinhos verdes “de Viana”sendo o negócio do Porto depois gradualmente laicizado e alfandegado muito mais tarde.

Para qualquer esclarecimento, disponham.
Altino M. Cardoso"