sábado, 28 de maio de 2011

LOUVOR À ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA


Dr. José Silva Pinto

Teve o Senhor Presidente da Direcção desta mais que centenária e prestigiosa Associação, a gentileza de convidar-me a elaborar um texto com os principais eventos que conheci desta e nesta Associação – a que estou a aceder com muita honra para mim e com o máximo prazer, visto que se trata de algo da minha terra natal. Aliás, esta e a Santa Casa de Misericórdia são as obras de carácter assistenciais e humanitárias, principais ou nºs 1 do Peso da Régua.

Vou tentar, se a memória me não trair, descrevê-los cronologicamente.

1. Conheci a existência da Associação quando, ainda miúdo, ouvia uns gritos estranhos e perguntei o que eram tais gritos. Explicaram-me o que era, donde vinha e o que iam fazer os “Bombeiros”. Fiquei muito e gostei do modo com que explicaram tudo, as alegrias e tristezas como as pessoas se exprimiram acerca da Associação e Bombeiros!

2. Vi, pela 1ª vez, o Quartel quando minha mãe me pediu, para vir ao chamado, então “cimo da Régua”, onde 1 agente da GNR, dirigia o trânsito automóvel, então em 3 sentidos. Vim à Casa Fortunato e à mercearia do Sr. José Pinto da Fonseca. Perguntou-me a que família eu pertencia e o lugar onde morava; lugar: então, “Cais de Baixo” ou “Fundo da Régua”; pelos meus pais, disse-me que ainda éramos parentes por parte de meu pai: “Pinto”. Aproveitei essa confiança e pedi-lhe para me indicar onde era o “Quartel dos Bombeiros”. Dispôs-se logo a vir comigo e indicou, e perguntou-me se eu queria entrar para o conhecer melhor. Aceitei. Senti-me pequeno dentro do edifício e das viaturas e alguns Bombeiros fardados! Gostei imenso e contei em casa.

3. Dali em diante, sempre que ouvia tocar a “sirene” e se podia, vinha, com outras pessoas, saber onde ocorria o incêndio; alguns viam-se, outros não, consoante o lugar onde aconteciam. Eu tudo admirava! Com a idade, o vir ao “cimo da Régua”, tornou-se mais frequente e entrar para admirar as viaturas, com o que me orgulhava e algo me satisfazia!

4. A 1ª vez que vi um incêndio, de perto e de altas proporções foi quando se deu esse incêndio na “Casa Viúva Lopes”, perto da CP. Vinha eu, minha mãe e minha irmã e outros vizinhos (as) da “Novena de Nossa Senhora do Socorro quando, perto do Largo dos Aviadores, ouvimos tocar a sirene. Olhamos e vimos o fumo que vinha dos lados da CP. O grupo dirigiu-se para lá, quando, já de longe, começamos a ver umas grandes labaredas, e (como eu nunca tinha visto), disseram o nome da “Casa …”, e fomo-nos aproximando, quando “Agentes da GNR” impediram toda a gente de se aproximar mais (a nascente e do poente). Ardia!... Ardia!... quando começamos a ver uma “chaminé” que começava a tombar e as pessoas a gritar!... Eis senão quando vimos a chaminé cair, aos poucos e, com um grande estrondo, se desfez onde parou – qual “gigante adamastor”! Inesquecível! Ninguém arredou pé sem saber se algum bombeiro teria sofrido algo. Quando tal, começou um sussurro a dizer que parecia que tinha morrido o Sr. “João dos Óculos”. Quando tal, confirmou-se a verdade do tal sussurro!... Era assim conhecido porque era o único bombeiro que, naquele tempo, usava óculos!... Eu conhecia-o bem – parece-me que ainda estou a vê-lo: de estatura média e muito mexido, respeitado e admirado.
5.  No dia seguinte e seguintes, não se falava noutra coisa e, quando alguém lembrava o Sr. “João dos Óculos”, ninguém continha as lágrimas! Quando, num dos dias seguintes, se celebraram as “exéquias fúnebres”, a igreja matriz foi pequena para receber toda a gente que queria rezar, render-lhe a última homenagem e um dar-lhe “Adeus” sentido. O semanário local encheu-se só com este inusitado evento e com o “bombeiro mártir” do seu dever, generosa e exemplarmente cumprido. Estiveram presentes altas individualidades de todo o distrito. À entrada dele, na igreja, no momento da elevação da S. Hóstia e do S. Cálice, bem como no final, os clarins fizeram chorar todos os olhos e até pareceu que as santas imagens acompanharam este clamor! Sendo tudo “triste”, foi muito “bonito”!... o mesmo aconteceu quando a “urna” desceu à terra nua e fria!!!

6.  Quando já eu passeava na Régua, lamentava, no meu interior, o novo Quartel continuar por acabar, o que, creio eu, levou dezenas de anos. Até que chegou a ocasião do uso de novo Quartel que, além do lugar e dos espaços, é, em arquitectura, um dos mais bonitos que tenho visto; ficando, assim a Régua com um Quartel adequado, além de ser a 1ª Associação Distrital de Bombeiros; vai fazer 131 anos, em 28.11.
7. Mais tarde, alguém se eco que a Associação necessitava de um novo “Estandarte”. Meu pai - Manuel Pinto - estava na Venezuela, como imigrante. Não se fez esperar muito. Enviou o custo para a sua aquisição, e a Direcção convidou-nos: minha mãe e os seus 5 filhos, a irmos vê-la. Minha irmã Maria de Fátima tinha o “curso de bordados da Singer” e disse que a Bandeira não estava perfeita. Perguntaram-lhe o que faltava. Respondeu: “o bordado em toda a volta”. Ficaram a pensar… Ela ofereceu-se para o fazer!... Ainda hoje é o Estandarte que embeleza a participação de Bombeiros na Festa Anual de Nossa Senhora do Socorro e outras festividades e eventos.

8. Pouco depois, a Associação adquiriu uma nova Ambulância. A Direcção teve a amabilidade de convidar a minha irmã do meio – a Maria Celeste (Celestinha) para ser a madrinha. Ainda há pouco apareceu na foto de umas destas utilíssimas Histórias, de véu branco, como era costume então, em actos religiosos, na bênção… e “branco”, pois era adolescente.

9.  O fim no meu “curso teológico” teve celebração solene na Matriz. 4 Bombeiros abrilhantaram-na: 2 tocaram cornetim (?), lindamente, por ocasião das “comemorações e elevações”; 2 outros levantaram o estandarte, os outros 2 estenderam o pano lindo a bandeira.

10. Uma palavrinha dirigida ao Senhor Presidente da Direcção, Dr. JOSÉ ALFREDO ALMEIDA. É um HOMEM, todo motivado e dedicadíssimo à Nobre Causa dos BOMBEIROS. Pertence também à Direcção Distrital, bem como a nível Nacional, e tem sido incansável em aumentar a nossa Associação, cada vez melhor e maior, a todos os níveis, recebendo todo o respeito, gratidão e admiração de todos os reguenses!

À POPULAÇÂO REGUENSE

11. Para que consigamos melhor o referido escopo, façamo-nos todos “SÓCIOS” dos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS REGUENSES. Como diz o slogan muito usado “AJUDEMOS PARA SERMOS AJUDADOS QUANDO NECESSITARMOS”!
NOTA: Agradecemos ao Dr. José Silva Pinto por ter colaborado neste nosso “arquivo” com um inédito sobre as suas memórias dos bombeiros da Régua que não deixam de ser um contributo muito importante de quem viveu e presenciou factos que interessam à história da Associação.
Como revela neste seu escrito, os bombeiros não esquecem o gesto de generosidade do seu pai, Manuel Pinto que, quando esteve emigrado na Venezuela, ofereceu o actual Estandarte da Associação, nem o de sua irmã Maria Celeste Pinto, uma “madrinha” numa cerimónia festiva.

O nosso bem-haja pelo “LOUVOR” que atribui á Associação e aos seus bombeiros da Régua. Eles sentem-se gratos e reconhecidos pela sua generosa atitude.
- José Alfredo Almeida em Maio de 2011 - Escritos do Douro.
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Louvor à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua
Jornal "O Arrais", Quinta feira, 19 de Maio de 2011
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Louvor à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

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