sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Para sempre... nas Caldas do Moledo

Na última vez que  passei pelas Caldas do Moledo percebi que nunca ousei partir deste lugar único.

Para sempre, fiquei a morar nele num tempo que não existe e não me pertence mais. Foi ficando neste meu lugar, junto às antigas margens do velho rio Douro, que só só existem do que ficou do meu passado. Como o tempo, um rio novo rio tudo mudou e submergiu o mundo em volta da imagem que ficou guardada no postal. Aquele velho balneário termal que foi lugar de muitos banhistas à procura de curas para os padecimentos do corpo e minhas inocentes brincadeiras, ficou também para sempre no fundo das água, sem que ninguém tenha ousado mudar-lhe aquele seu destino. Como também não mudamos nada do nosso, deixamo-nos submergir nas correntes da vida e sem vontade de ousar partir para novos destinos e de  fazer do que resta da vida um sonho feliz.

Fomos ficando aqui para sempre, submersos ao fluir vida e a uma paisagem única e inesquecível. Hoje sei que se tiver de sair deste lugar  tenho de entrar pela escuridão da noite adentro para procurar o lugar certo em que perdi o futuro.

Dizem por aí, que  tu sabes... que te foi contado em segredo, numa noite de chuvas e trovoadas, na  casa de  uma velha cartomante que o descobriu  num baralho de cartas.

Não sei se é verdade e se acredite no que dizem as cartas sobre os destinos da vida e os nossos futuros. Mas, quando faço um balanço do que vivi recordo para mim o que disse um escritor acertadamente: «Sou a criança que queria manter a ilusão e, ao mesmo tempo, o velho ciente de que tudo tem preço, tudo tem fim», como se pode ler na página 225 do seu romance "A Amante Holandesa". Como se fosse um personagem da vida, também eu fui ficando... neste meu lugar, junto às antigas margem do rio Douro que só existe em memórias, velhos postais que resistiram ao tempo e no que eu arquivei do meu passado.

Olha, apetece-me consultar a tua cartomante. Talvez só ela saiba mesmo se ainda por aí existe algum FUTURO...!
- José Alfredo Almeida, Peso da Régua, Fevereiro de 2011. Clique na imagem acima para ampliar.

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